segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Um exame crítico e histórico da adoração islâmica

dr. Halley nos informa que Maomé, quando moço, visitou a Síria e entrou em contato com os cristãos daquela região, onde se encheu de horror pela idolatria que os tais seguidores de Cristo praticavam.1

Parece que o profeta estava à procura de um Deus mais singular e único. Cansado da idolatria e do paganismo existentes em suas terras, esse conflito espiritual gerou em seu coração a sensação heróica de querer ser o “profeta da restauração”: “Eis aqui a religião de Deus! Quem melhor que Deus para designar uma religião? Somente a Ele adoramos!” (Surata 2:138).

Os historiadores Knigth e Anglin também comentam sobre o zelo do islamismo contra a idolatria: “No ano 726 d.C., Leão III, imperador do Oriente, assustado com o progresso dos maometanos, cujo fim conhecido era exterminar a idolatria e afirmar a unidade de Deus, começou, por interesse próprio, uma cruzada animada contra as adorações das imagens, e o zelo que mostrou nessa nova empresa logo lhe criou o nome de Iconoclasta, que significa quebrador de imagem”.2

As imagens e a Igreja Católica Apostólica Romana

Quando o catolicismo começou a aderir às imagens de esculturas e aos desenhos de fatos bíblicos e de santos, a idéia não era ir contra os ensinamentos da Palavra de Deus, mas implantar uma didática pragmática para que o povo da Idade Média, leigo e analfabeto, pudesse aprender mais sobre as histórias bíblicas. O difícil foi conseguir separar a imagem da adoração idólatra, o que o catolicismo romano falhou miseravelmente ao dar plena evasão a uma prática tão condenada pela Bíblia Sagrada.

Até mesmo os livros apócrifos condenam tal prática. Por exemplo, no primeiro Livro de Macabeus é-nos contado que os judeus preferiram enfrentar a morte e ir contra o decreto do rei grego Antíoco Epifânio a terem de adorar as imagens do panteão mitológico da Grécia: “Erigissem altares, templos e ídolos [...] a obrigarem-nos a esquecer a lei e a transgredir as prescrições” (I Macabeus 1:47-49). Ou seja, a problemática católica teve início com uma boa intenção: instruir os incautos usando as imagens.

Nesse ínterim, os bárbaros “convertidos” ao cristianismo já haviam encontrado os representantes de seus ídolos em imagens católicas. O comércio dessas imagens e ídolos estava, desde então, gerando enormes recursos para a Igreja. O procedimento do clero, que vivia nas trevas da ignorância, sem se preocupar com o que realmente a Bíblia ensinava, e toda a conjectura dos acontecimentos mostravam que a idolatria seria a marca registrada da Igreja Romana. Em seu livro, As brumas de Avalon, Marion Zimmer Bradley relata que a “deusa mãe”, adorada pelos Teutões e Saxões (germanos), tinha sobrevivido à cristianização na pessoa da mãe de Deus — a Virgem Maria. Esses povos não tiveram dificuldades em assimilar a deusa Virgem Maria, pois viam nela a sua adorada “deusa mãe”. Por fim, só restava ao papa decretar o que já era fato, o que aconteceu em 787 d.C., no segundo Concílio de Nicéia, quando ele disciplinou a veneração de imagens.

Bem, você deve estar se perguntando porque estou explicitando algo sobre o catolicismo quando a minha intenção é falar de islamismo. É que, para nossa surpresa e concepção, o islamismo passou e está passando por uma transformação parecida: do zelo iconoclasta maometano ao desvio para a idolatria. Foi justamente isso que descobri em várias leituras que fiz sobre o mundo islâmico. Sempre tive no islamismo, devido à minha cultura ocidental, uma religião um tanto paradoxal e composta de doutrinas bem exóticas, mas não imaginava que tivesse alguma tendência à prática da idolatria.

Acredito que ídolos e analfabetismo sejam uma mistura perfeita para a incubação do misticismo popular, e como nos países muçulmanos a taxa de analfabetismo sempre foi muito alta, é possível que o islamismo venha seguindo, já há alguns séculos, o mesmo caminho que a Igreja Romana tomou na Idade Média. Isso não é de se admirar, porque, como veremos, o islamismo nasceu em meio a um ambiente pagão idólatra – a Caaba.

O Alcorão condena a idolatria?

Sim! As páginas corânicas são bem claras em relação a esta questão. A luta contra a adoração de imagens e ídolos parece ter sido uma das maiores empreitadas do profeta. A seguir iremos relacionar alguns textos que condenam a prática da idolatria. Gostaríamos que o leitor observasse que, para o islamismo, acreditar na Trindade também é pecado de idolatria. Vejamos:

“E quando viu despontar o Sol, exclamou: Eis aqui meu Senhor! Este é maior! Porém, quando este se pôs, disse: Ó povo meu, não faço parte da vossa idolatria!” (Surata 6:78).

“Porém, se Deus quisesse, nunca se teriam dado à idolatria. Não te designamos (ó Mohammad) como seu defensor, nem como seu guardião” (Surata 6:107).

“Porventura, enviamos-lhes alguma autoridade, que justifique a sua idolatria?” (Surata 30:35).

“Ó filho meu, não atribuas parceiros a Deus, porque a idolatria é grave iniqüidade” (Surata 31:13).

“E permanecei tranqüilas em vossos lares, e não façais exibições, como as da época da idolatria; observai a oração, pagai o zakat , obedecei a Deus e ao seu mensageiro, porque Deus só deseja afastar de vós a abominação, ó membros da Casa, bem como purificar-vos integralmente” (Surata 33:33).

A Trindade como prática idólatra:

“São blasfemos aqueles que dizem: ‘Deus é o Messias, filho de Maria’, ainda quando o mesmo Messias disse: Ó israelitas, adorai a Deus, que é meu Senhor e vosso. A quem atribuir parceiros a Deus, ser-lhe-á vedada a entrada no paraíso e sua morada será o fogo infernal!’ Os iníquos jamais terão socorredores. São blasfemos aqueles que dizem: ‘Deus é um da Trindade!’, portanto não existe divindade alguma além do Deus único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo açoitará os incrédulos entre eles” (Surata 5:72-3; grifo nosso).

A sentença para quem pratica a idolatria:

“Mas quando os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que Deus é indulgente, misericordiosíssimo” (Surata 9:5; grifo nosso).

Indícios de idolatria em algumas práticas islâmicas

A partir daqui, estaremos discrimando algumas práticas de adoração islâmicas que se chocam com a teoria doutrinária exarada no Alcorão. Construiremos esta análise fundamentando-a na concepção de diversos pesquisadores religiosos e esperamos que as referências citadas nos possibilitem tecer um julgamento equilibrado da tensão existente no ambiente de adoração islâmico. Vejamos:

Maomé – um profeta vaticinado por pagãos idólatras

No livro A vida do profeta Maomé, traduzido por Ibn Ishaq, é declarado: “Rabinos judeus, monges cristãos e adivinhos árabes prevêem o advento de um profeta...”.3

A Bíblia, no entanto, diz: “Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?” (Tg 3.11). Ou seja, de acordo com os ensinamentos de Deus, de uma mesma fonte não pode jorrar dois tipos de águas — ou a água é boa ou é má. Se Maomé foi profetizado por árabes pagãos isso coloca, até mesmo para os seus seguidores, uma dúvida latente sobre a autenticidade de seu ministério.

Caaba – a veneração à Pedra Negra

A Caaba é o santuário islâmico localizado no centro da Grande Mesquita, em Meca. Lugar sagrado dos muçulmanos, guarda a Pedra Negra, que, segundo a crença islâmica, fora dada a Adão depois de sua expulsão do paraíso.

Por ter sido levada pelo dilúvio, a Caaba fora reconstruída por Abraão e seu filho Ismael, que teriam embutido no ângulo Sudeste do cubo de pedra que formava a casa de Deus a Pedra Negra, trazida pelo anjo Gabriel. “Os muçulmanos contornavam a Caaba sete vezes, tocando ou beijando a Pedra Negra ao passarem por ela”.4

A peregrinação para Meca, ou Hajj, é um dos pilares do islamismo. Essa viagem ao lugar do nascimento de Maomé deve ser feita por todo muçulmano pelo menos uma vez na vida, desde que dotado de condições físicas e econômicas.

Mantran comenta o seguinte sobre a Caaba:

“A partir do século V, Meca ficou sob o domínio da tribo de Qoraysh, quando um de seus membros, Qosayy, vindo do norte, eliminou a tribo de Khozaa e teve a habilidade para transformar Meca em um grande centro de peregrinação, reunindo em um só santuário, a Caaba, as principais divindades dos Árabes [...] Entre os árabes, essa Pedra Negra, provavelmente um meteorito, era (e é) objeto de veneração [...] reunindo ali as grandes divindades árabes, permitindo assim aos homens das caravanas satisfazerem sua crença numa ou noutra divindade”.5 (grifo nosso)

O prêmio nobel de literatura, dr. Naipaul, corrobora nesse sentido:

“... A peregrinação a Meca é mais velha do que o Islã, enraizada no antigo culto tribal árabe e incorporada pelo profeta às práticas islâmicas: a essa cultura, camada após camada de história”.6

O dr. Salim Almahdy também faz a seguinte observação sobre a Caaba e a Pedra Negra:

“... Também já existia em Meca a Pedra Negra, por causa da qual as pessoas peregrinavam para Meca. Os peregrinos beijavam a pedra, prestando culto a Alá por meio dela”.

Todas as evidências fidedignas mostram que esse lugar foi o centro do paganismo na Arábia, adaptado ao islamismo pelos fiéis muçulmanos e mantido até hoje na essência de sua doutrina, onde na prática a Pedra Negra acaba recebendo tanta veneração quanto Alá.

Alá – mais um ídolo adorado na Caaba?

Para o historiador libanês, Albert Hourani, Alá não passava de mais um dos deuses e ídolos do paganismo:

“O nome dado a Deus era Alá, já em uso para um dos deuses locais (e hoje usado por judeus e cristãos de língua árabe como o nome de Deus)”.7

Escritores e historiadores que corroboram que Alá era mais um deus entre o panteão pagão da Arábia:

Dr. Salim Almahdy, escritor e ex-islâmico:

“O islamismo, Alá e grande parte do Alcorão já existiam antes de Maomé. O pai de Maomé chamava-se Abed Alá, que significa escravo de Alá [...] A Enciclopédia do islamismo nos fala que os árabes pré-islâmicos conheciam Alá como uma das divindades de Meca [...] Segundo a Enciclopédia Chamber’s, ‘a comunidade onde Maomé foi criado era pagã, com diferentes localidades que tinham os seus próprios deuses, freqüentemente representados por pedras. Em muitos lugares havia santuários para onde eram feitas peregrinações. Meca possuía um dos mais importantes, a Caaba, onde foi colocada a pedra negra, há muito tempo um objeto de adoração [...] Alá era o deus lua. Até hoje os muçulmanos usam a forma do quarto crescente sobre as suas mesquitas. Nenhum muçulmano consegue dar uma boa explicação para isso. Na Arábia havia uma deusa feminina que era a deusa sol e um deus masculino que era o deus lua. Diz-se que eles se casaram e deram à luz três deusas chamadas as filhas de Alá, cujos nomes eram Al Lat, Al Uzza e Manat. Alá, suas filhas e a deusa sol eram conhecidos como os deuses supremos. Alá, Allat, Al Oza e Akhbar eram alguns dos deuses pagãos...’”(www.ictus.com.br).

Rushdie, autor de Versos satânicos:

“Pensai também em Lat e Uzza, e em Manat [filhas de Alá] Elas são os pássaros exaltados, e sua intercessão é de fato desejada [pelos muçulmanos]”8

Mantran:

“Os árabes do Norte tinham crenças mais realistas: espíritos, djinns representados por árvore, pedras. Acreditavam também em divindades, muito numerosas, mas algumas eram veneradas pela maioria das tribos; as mais importantes entre essas divindades eram três deusas: Manat, Ozza e al-Lat, por sua vez subordinadas a uma divindade superior, Alá...”.9

Mather e Nichols:

“Alá era uma divindade suprema já conhecida dos povos do Norte da Arábia”.10

O que Maomé realmente fez foi substituir o paganismo politeísta por um paganismo monoteísta. Afinal, todas as evidências comprobatórias e históricas nos apontam para o fato de que Alá era um ídolo tribal.

Os amigos de Deus

No catolicismo romano é comum a reza aos “santos” mortos. O católico acredita que esses cristãos, que em vida fizeram grandes obras de piedade, possam, depois de mortos, ter acesso a Deus e realizar intercessões espirituais em favor dos vivos que fazem preces em seus nomes.

Estranhamente, algo parecido acontece com os muçulmanos. Na teologia islâmica, esses santos especiais são chamados de “amigos de Deus”. É o que nos conta o dr. Hourani:

“A idéia de um caminho de acesso a Deus implicava que o homem não era só criatura e servo dele, mas também podia tornar-se seu amigo (wali). Essa crença encontrava justificativa em trechos do Alcorão: ‘Ó vós, Criador dos céus e da terra, sois meu amigo neste mundo e no próximo’ (Surata 12:101).

“Aos poucos, foi surgindo uma teoria de santidade (wilaya). O amigo de Deus era o único que sempre estava perto dele, cujos pensamentos estavam sempre nele, e que havia dominado as paixões humanas que afastavam o homem dele. A mulher, tanto quanto o homem, podia ser santa. Sempre houvera e sempre haveria santos no mundo, para manter o mundo no eixo.

“Com o tempo, essa idéia adquiriu expressão formal: sempre haveria certo número de santos no mundo; quando um morria, era sucedido por outro; e eles constituíam a hierarquia que eram os governantes desconhecidos do mundo, tendo o qutb, o pólo sobre o qual o mundo girava, como seu chefe [...] Os amigos de Deus intercediam junto a ele em favor de outros, e sua intercessão tinha resultados visíveis neste mundo. Trazia curas para a doença e a esterilidade, ou alívio nos infortúnios, e esses sinais de graça (karamat) eram também provas da santidade do amigo de Deus.

“Veio a ser largamente aceito que o poder sobrenatural pelo qual um santo invocava graças para este mundo podia sobreviver à sua morte, e podia-se fazer pedidos de intercessão em seu túmulo. As visitas aos túmulos dos santos, para tocá-los ou orar diante deles, passaram a ser uma prática complementar de devoção, embora alguns pensadores muçulmanos encarassem isso como uma invocação perigosa, porque interpunha um intermediário humano entre Deus e cada crente individual. O túmulo do santo, quadrangular, com um domo abaulado, caiado por dentro, isolado ou dentro de uma mesquita, ou servindo de núcleo em torno do qual surgia uma zawiya, era uma feição conhecida na paisagem rural e urbana islâmica [...] Do mesmo modo como o Islã não rejeitou a Caaba, mas deu-lhe novo sentido, também os convertidos do Islã trouxeram-lhe seus próprios cultos imemoriais. A idéia de que certos lugares eram moradas de deuses ou espíritos sobre-humanos estava generalizada desde tempos muito antigos: pedras de um tipo incomum, árvores antigas, nascentes que brotavam espontaneamente da terra, eram encaradas como sinais visíveis da presença de um deus ou espírito ao qual se dirigia pedidos e se faziam oferendas, pendurando-se panos votivos ou sacrificando-se animais.

“Em todo o mundo onde o Islã se espalhou, tais lugares se tornaram ligados aos santos muçulmanos, e com isso adquiriram um novo significado [...] Alguns dos túmulos dos santos tinham-se tornado centros de grandes atos litúrgicos públicos. O aniversário de um santo, ou um dia especial ligado a ele, era comemorado com uma festa popular, durante a qual muçulmanos do distrito em torno ou de mais longe ainda se reuniam para tocar o túmulo, rezar diante dele e participar de vários tipos de festividades [...] Esses santuários nacionais ou universais eram os de Mawlay Idris (m. 791), tido como fundador da cidade de Fez; Abu Midyan (c. 1126-97) em Tlemcem, na Argélia Ocidental; Sidi Mahraz, santo padroeiro no delta egípcio, objeto de um culto em que os estudiosos viam uma sobrevivência em nova forma do antigo culto egípcio de Bubastis; e ‘Abd al-Qadir, que deu nome à ordem qadirita, em Bagdá [...] Com o decorrer do tempo, o profeta e sua família passaram a ser vistos na perspectiva da santidade. A intercessão do profeta no Juízo Final, acreditava-se comumente, atuaria para a salvação daqueles que tinham aceito a missão dele.

“Maomé passou a ser encarado como um wali, além de profeta, e seu túmulo em Medina era um local de prece e pedidos, a ser visitado por si ou como uma extensão do hadj. O aniversário do profeta (mawlid) tornou-se uma ocasião de comemoração popular; essa prática parece ter começado a surgir na época dos califas fatímidas, no Cairo, e estava generalizada nos séculos XII e XIV [...] O santo, ou seus descendentes e os guardiães de seu túmulo, podiam lucrar com sua reputação de santidade; as oferendas dos peregrinos davam-lhe riquezas e prestígios [...] Alguns exemplos disso foram observados nos tempos modernos: na Síria, o khidr, o misterioso espírito identificado com São Jorge, era reverenciado em fontes e outros lugares santificados; no Egito, coptas e muçulmanos comemoravam igualmente o dia de santa Damiana...”.11

Em seu livro Entre os fiéis, o dr. Naipaul comenta a respeito da veneração que um paquistanês desenvolveu por um desses santos:

“Disse ele: ‘Existem categorias de fiéis. Alguns querem dinheiro, outros desejam uma boa vida no além [...] Eu desejo encontrar Alá. Você só pode fazer isso através de um médium. Meu murshid é o meu médium. Eu desejo amar meu murshid em meu coração. Alá está com meu murshid. E quando meu murshid entra em meu coração, Alá está comigo [...] Só posso conhecer Alá através do meu médium. O murshid não era o pir ou chefe da comunidade, como eu pensei [...] era o santo cuja tumba havia visitado”.12

A Bíblia desaprova a intercessão dos santos católicos, dos “amigos de Deus” muçulmanos e de qualquer outra espécie de entidade. Somente a Jesus Cristo, o Filho de Deus, a Bíblia tem outorgado esse direito de interceder pelos homens: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5).

A veneração aos imãs

“Maomé, Fátima (filha do profeta) e os imãs eram vistos como encarnações das inteligências por meio dos quais o Universo foi criado. Os imãs eram vistos como guias espirituais no caminho do conhecimento de Deus: para os xiitas, vieram a ter a posição que os ‘amigos de Deus’ tinham para os sunitas”.13

Procissões

Algo comum no catolicismo é uma romaria ou procissão em devoção a algum santo canonizado pela Igreja Romana. O que poucos sabem é que no Islã os tais “amigos de Deus” também recebem a mesma homenagem, principalmente entre os xiitas.

O dr. Naipaul, em uma de suas viagens por países islâmicos, fez uma observação a esse respeito quando visitava o Irã em 1979, no auge da Revolução Islâmica impetrada por Khomeini. Revolução que, devido ao rigor religioso, punia todas as pessoas, inclusive estrangeiras, que desrespeitassem as normas do Alcorão.

Vejamos o que ele nos informa:

“O islamismo tem seus próprios mártires. Uma vez por ano, desfilam seus mausoléus alegóricos pelas ruas; os homens ‘dançam’ com pesadas luas crescentes, ora balançando as luas de um jeito, ora de outro; os tambores batiam, e às vezes havia combates rituais com varas. As brigas de vara eram uma simulação de uma antiga batalha, mas a procissão era de luto e comemorava a derrota naquela batalha [...] A cerimônia — da qual participavam tanto hindus como muçulmanos — era essencialmente xiita, e a batalha tinha a ver com a sucessão do profeta, que fora travada no Iraque, que o homem especificamente pranteado era o neto do profeta”.14

Quanto à procissão, a teologia bíblica só tem uma resposta, tanto para os católicos como para estes grupos específicos de islâmicos: “Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar” (Is 45.20).

Superstições islâmicas

“Mais difundida, na verdade praticamente universal no islamismo, era a crença em espíritos e a necessidade de descobrir um meio de controlá-los. Os jinns eram espíritos com corpos de vapor ou chama que apareciam aos sentidos, muitas vezes sob forma de animais, e podiam influenciar as vidas humanas; às vezes, eram maus, ou pelo menos travessos, e, portanto, era necessário controlá-los.

“Também podia haver seres humanos com poderes sobre as ações e vidas de outros, ou devido a alguma característica sobre a qual não tinham controle — o olho mau — ou pelo exercício deliberado de certas artes, que podiam despertar forças sobrenaturais. Era um reflexo distorcido do poder que os virtuosos, os amigos de Deus, podiam adquirir por graça divina. Mesmo o cético (escritor islâmico) Ibn Khaldun acreditava na existência da bruxaria, e que certos homens podiam descobrir meios de exercer poder sobre outros, mas achava isso repreensível. Havia uma crença geral entre os muçulmanos em que tais poderes podiam ser controlados ou contestados por encantos e amuletos colocados em certas partes do corpo, disposições mágicas de palavras e figuras, sortilégios ou rituais de exorcismo ou propiciação, como o zar, um ritual de propiciação, ainda difundido no vale do Nilo”.15

Segundo o historiador Mantran, o próprio Maomé, quando começou a receber a revelação de Alá e do Alcorão, acreditou estar possuído por jinns e até pensou em cometer suicídio16.

O que percebemos com todas essas conjecturas e colocações é que algumas vertentes do Islã, em determinadas localidades, além de terem adotado práticas idólatras do paganismo, abraçaram as superstições dos povos nômades da Arábia, e isso ainda permeia a religião do profeta com toda a sua força mística.

Equilibrando os fatos

Não queremos aqui desqualificar o Islã como mais uma religião monoteísta. Assim como não é justo classificar o cristianismo bíblico como idólatra, também não é razoável qualificar o islamismo alcorânico como tal. Porém, tanto o “cristianismo” expressado pelos católicos romanos, como o “islamismo” expressado pelos muçulmanos xiitas, em alguns pontos se desviam dos padrões sagrados exarados pelos Escritos Sagrados que arrogam professar. Estamos apenas fazendo um exame, de maneira generalizada, sobre pontos comuns no seio teológico da religião islâmica. Aliás, esse é um debate e preocupação que também tem afetado e gerado certa tensão entre os próprios pensadores islâmicos.

O que descrevemos e compilamos nesta matéria é uma censura contra uma religião que, apesar de levantar uma bandeira contra a idolatria e as superstições, abraça em seu rol de adeptos fragmentados grupos que na verdade se condenam em suas próprias práticas religiosas.

Sabemos que idolatria é adoração ou veneração aos ídolos ou imagens, quando usada em seu sentido elementar. Mas também pode indicar a veneração ou adoração a qualquer objeto, santo, pessoa, instituição, ambição, etc, que tomem o lugar de Deus, ou que diminuam a honra que lhe devemos prestar. Assim, idolatria consiste na adoração a algum falso deus, ou a prestação de honras divinas a certas entidades. E quando o islâmico venera a Pedra Negra, faz peregrinação a Caaba, reza ao pé do túmulo de um “santo” (pedindo sua intercessão), está, na verdade, praticando idolatria, pois invoca um intercessor que não é o Deus revelado na Bíblia.

A própria recitação, na qual o indivíduo tem de declarar para se tornar muçulmano, já é comprometedora em si mesma: “Não há outro Deus além de Alá e Maomé é o mensageiro de Alá”. Se Alá fosse de fato o Deus bíblico, não haveria necessidade de invocar um outro nome junto ao seu. A Bíblia diz: “E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos” (At 4.12). A salvação é só para aquele que invoca o nome do único Senhor: “Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Rm 10.9).

Facções islâmicas

Historicamente, o islamismo tem sido marcado pelo surgimento de movimentos, grupos e correntes de maior ou menor envolvimento político, de linhas fundamentalistas (conservadora) ou moderna. Cada uma delas com uma tendência de interpretação dos conceitos islâmicos. São eles:

Os sunitas: subdividem-se em quatro grupos principais, cada um deles com uma escola de interpretação da sharia17: hanafitas, malequitas, chafeitas e hambanitas. São os seguidores da tradição do profeta Maomé, continuada por All-Abbas, seu tio. Calcula-se que 84% dos muçulmanos sejam sunitas. Para eles, a autoridade espiritual pertence à comunidade.

Os xiitas: também possuem sua própria interpretação da sharia. Seu nome deriva da expressão “shi at Ali”, partido de Ali, que foi marido de Fátima, filha de Maomé. Seus descendentes teriam a chave para interpretar os ensinamentos do Islã.

Os sufistas: enfatizam a relação pessoal com Deus e praticam rituais que incluem danças e exercícios de respiração para atingir um estado místico. São membros praticantes do sufismo os faquires18 da Índia e outras regiões da Ásia, e os dervixes19, da Turquia.

Vejamos algumas divergências doutrinárias entre os sunitas e xiitas:

Sobre a intercessão entre Alá e os seres humanos

Sunitas: acreditam que ninguém pode atuar como intercessor entre Alá e os seres humanos. “Diz: a Alá pertence exclusivamente o direito de garantir intercessão. A Ele pertence o domínio dos céus e da terra. No fim, é para Ele que todos serão retornados” (Surata 39:44).

Xiitas: para os muçulmanos xiitas, os doze imames20 podem interceder entre a humanidade e Alá: “...os muçulmanos xiitas devem conhecer seu imame de modo a serem salvos, e os imames, assim como os profetas, claro, podem e intercedem pelos crentes perante deus na hora do julgamento...” (Nasr 1987, 261).

Sobre o papel e a condição dos imames dos dias atuais

Sunitas: para eles os imames xiitas atuais (por exemplo, os aiatolás21) são humanos sem quaisquer poderes divinos, considerados apenas como muçulmanos virtuosos. Já os “doze imames” são particularmente respeitados por sua relação com Ali e sua esposa Fátima, a filha de Maomé. Os sunitas acreditam que Ali e seus dois filhos, Hassan e Hussein, foram altamente respeitados pelos três primeiros califas2 2 e companheiros de Maomé. Os sunitas também consideram herético imputar a seres humanos atributos de natureza divina tais como infabilidade e conhecimento de todos os assuntos temporais e cósmicos.

Xiitas: acreditam que os imames de níveis mais altos dos dias atuais (aiatolás) recebem sua orientação e iluminação espiritual diretamente dos “doze imames”, em contato contínuo com seus seguidores na terra todos os dias por meio de líderes espirituais contemporâneos. Os aiatolás, portanto, desempenham um papel mediador vital. Por causa de seu papel espiritual, os aiatolás não podem ser designados pelos governantes, mas apenas pelo consenso de outros aiatolás.

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