dr. Halley nos informa que Maomé, quando moço, visitou a Síria e entrou em
contato com os cristãos daquela região, onde se encheu de horror pela idolatria
que os tais seguidores de Cristo praticavam.1
Parece que o profeta estava
à procura de um Deus mais singular e único. Cansado da idolatria e do paganismo
existentes em suas terras, esse conflito espiritual gerou em seu coração a
sensação heróica de querer ser o “profeta da restauração”: “Eis aqui a religião
de Deus! Quem melhor que Deus para designar uma religião? Somente a Ele
adoramos!” (Surata 2:138).
Os historiadores Knigth e Anglin também
comentam sobre o zelo do islamismo contra a idolatria: “No ano 726 d.C., Leão
III, imperador do Oriente, assustado com o progresso dos maometanos, cujo fim
conhecido era exterminar a idolatria e afirmar a unidade de Deus, começou, por
interesse próprio, uma cruzada animada contra as adorações das imagens, e o zelo
que mostrou nessa nova empresa logo lhe criou o nome de Iconoclasta, que
significa quebrador de imagem”.2
As imagens e a Igreja Católica
Apostólica Romana
Quando o catolicismo começou a aderir às imagens de
esculturas e aos desenhos de fatos bíblicos e de santos, a idéia não era ir
contra os ensinamentos da Palavra de Deus, mas implantar uma didática pragmática
para que o povo da Idade Média, leigo e analfabeto, pudesse aprender mais sobre
as histórias bíblicas. O difícil foi conseguir separar a imagem da adoração
idólatra, o que o catolicismo romano falhou miseravelmente ao dar plena evasão a
uma prática tão condenada pela Bíblia Sagrada.
Até mesmo os livros
apócrifos condenam tal prática. Por exemplo, no primeiro Livro de Macabeus é-nos
contado que os judeus preferiram enfrentar a morte e ir contra o decreto do rei
grego Antíoco Epifânio a terem de adorar as imagens do panteão mitológico da
Grécia: “Erigissem altares, templos e ídolos [...] a obrigarem-nos a esquecer a
lei e a transgredir as prescrições” (I Macabeus 1:47-49). Ou seja, a
problemática católica teve início com uma boa intenção: instruir os incautos
usando as imagens.
Nesse ínterim, os bárbaros “convertidos” ao
cristianismo já haviam encontrado os representantes de seus ídolos em imagens
católicas. O comércio dessas imagens e ídolos estava, desde então, gerando
enormes recursos para a Igreja. O procedimento do clero, que vivia nas trevas da
ignorância, sem se preocupar com o que realmente a Bíblia ensinava, e toda a
conjectura dos acontecimentos mostravam que a idolatria seria a marca registrada
da Igreja Romana. Em seu livro, As brumas de Avalon, Marion Zimmer Bradley
relata que a “deusa mãe”, adorada pelos Teutões e Saxões (germanos), tinha
sobrevivido à cristianização na pessoa da mãe de Deus — a Virgem Maria. Esses
povos não tiveram dificuldades em assimilar a deusa Virgem Maria, pois viam nela
a sua adorada “deusa mãe”. Por fim, só restava ao papa decretar o que já era
fato, o que aconteceu em 787 d.C., no segundo Concílio de Nicéia, quando ele
disciplinou a veneração de imagens.
Bem, você deve estar se perguntando
porque estou explicitando algo sobre o catolicismo quando a minha intenção é
falar de islamismo. É que, para nossa surpresa e concepção, o islamismo passou e
está passando por uma transformação parecida: do zelo iconoclasta maometano ao
desvio para a idolatria. Foi justamente isso que descobri em várias leituras que
fiz sobre o mundo islâmico. Sempre tive no islamismo, devido à minha cultura
ocidental, uma religião um tanto paradoxal e composta de doutrinas bem exóticas,
mas não imaginava que tivesse alguma tendência à prática da
idolatria.
Acredito que ídolos e analfabetismo sejam uma mistura perfeita
para a incubação do misticismo popular, e como nos países muçulmanos a taxa de
analfabetismo sempre foi muito alta, é possível que o islamismo venha seguindo,
já há alguns séculos, o mesmo caminho que a Igreja Romana tomou na Idade Média.
Isso não é de se admirar, porque, como veremos, o islamismo nasceu em meio a um
ambiente pagão idólatra – a Caaba.
O Alcorão condena a
idolatria?
Sim! As páginas corânicas são bem claras em relação a esta
questão. A luta contra a adoração de imagens e ídolos parece ter sido uma das
maiores empreitadas do profeta. A seguir iremos relacionar alguns textos que
condenam a prática da idolatria. Gostaríamos que o leitor observasse que, para o
islamismo, acreditar na Trindade também é pecado de idolatria.
Vejamos:
“E quando viu despontar o Sol, exclamou: Eis aqui meu Senhor!
Este é maior! Porém, quando este se pôs, disse: Ó povo meu, não faço parte da
vossa idolatria!” (Surata 6:78).
“Porém, se Deus quisesse, nunca se
teriam dado à idolatria. Não te designamos (ó Mohammad) como seu defensor, nem
como seu guardião” (Surata 6:107).
“Porventura, enviamos-lhes alguma
autoridade, que justifique a sua idolatria?” (Surata 30:35).
“Ó filho
meu, não atribuas parceiros a Deus, porque a idolatria é grave iniqüidade”
(Surata 31:13).
“E permanecei tranqüilas em vossos lares, e não façais
exibições, como as da época da idolatria; observai a oração, pagai o zakat ,
obedecei a Deus e ao seu mensageiro, porque Deus só deseja afastar de vós a
abominação, ó membros da Casa, bem como purificar-vos integralmente” (Surata
33:33).
A Trindade como prática idólatra:
“São blasfemos aqueles
que dizem: ‘Deus é o Messias, filho de Maria’, ainda quando o mesmo Messias
disse: Ó israelitas, adorai a Deus, que é meu Senhor e vosso. A quem atribuir
parceiros a Deus, ser-lhe-á vedada a entrada no paraíso e sua morada será o fogo
infernal!’ Os iníquos jamais terão socorredores. São blasfemos aqueles que
dizem: ‘Deus é um da Trindade!’, portanto não existe divindade alguma além do
Deus único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo
açoitará os incrédulos entre eles” (Surata 5:72-3; grifo nosso).
A
sentença para quem pratica a idolatria:
“Mas quando os meses sagrados
houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os,
acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a oração e paguem
o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que Deus é indulgente, misericordiosíssimo”
(Surata 9:5; grifo nosso).
Indícios de idolatria em algumas práticas
islâmicas
A partir daqui, estaremos discrimando algumas práticas de
adoração islâmicas que se chocam com a teoria doutrinária exarada no Alcorão.
Construiremos esta análise fundamentando-a na concepção de diversos
pesquisadores religiosos e esperamos que as referências citadas nos possibilitem
tecer um julgamento equilibrado da tensão existente no ambiente de adoração
islâmico. Vejamos:
Maomé – um profeta vaticinado por pagãos
idólatras
No livro A vida do profeta Maomé, traduzido por Ibn
Ishaq, é declarado: “Rabinos judeus, monges cristãos e adivinhos árabes prevêem
o advento de um profeta...”.3
A Bíblia, no entanto, diz: “Porventura a
fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?” (Tg 3.11). Ou seja, de
acordo com os ensinamentos de Deus, de uma mesma fonte não pode jorrar dois
tipos de águas — ou a água é boa ou é má. Se Maomé foi profetizado por árabes
pagãos isso coloca, até mesmo para os seus seguidores, uma dúvida latente sobre
a autenticidade de seu ministério.
Caaba – a veneração à Pedra
Negra
A Caaba é o santuário islâmico localizado no centro da
Grande Mesquita, em Meca. Lugar sagrado dos muçulmanos, guarda a Pedra Negra,
que, segundo a crença islâmica, fora dada a Adão depois de sua expulsão do
paraíso.
Por ter sido levada pelo dilúvio, a Caaba fora reconstruída por
Abraão e seu filho Ismael, que teriam embutido no ângulo Sudeste do cubo de
pedra que formava a casa de Deus a Pedra Negra, trazida pelo anjo Gabriel. “Os
muçulmanos contornavam a Caaba sete vezes, tocando ou beijando a Pedra Negra ao
passarem por ela”.4
A peregrinação para Meca, ou Hajj, é um dos pilares
do islamismo. Essa viagem ao lugar do nascimento de Maomé deve ser feita por
todo muçulmano pelo menos uma vez na vida, desde que dotado de condições físicas
e econômicas.
Mantran comenta o seguinte sobre a Caaba:
“A partir
do século V, Meca ficou sob o domínio da tribo de Qoraysh, quando um de seus
membros, Qosayy, vindo do norte, eliminou a tribo de Khozaa e teve a habilidade
para transformar Meca em um grande centro de peregrinação, reunindo em um só
santuário, a Caaba, as principais divindades dos Árabes [...] Entre os árabes,
essa Pedra Negra, provavelmente um meteorito, era (e é) objeto de veneração
[...] reunindo ali as grandes divindades árabes, permitindo assim aos homens das
caravanas satisfazerem sua crença numa ou noutra divindade”.5 (grifo
nosso)
O prêmio nobel de literatura, dr. Naipaul, corrobora nesse
sentido:
“... A peregrinação a Meca é mais velha do que o Islã, enraizada
no antigo culto tribal árabe e incorporada pelo profeta às práticas islâmicas: a
essa cultura, camada após camada de história”.6
O dr. Salim Almahdy
também faz a seguinte observação sobre a Caaba e a Pedra Negra:
“...
Também já existia em Meca a Pedra Negra, por causa da qual as pessoas
peregrinavam para Meca. Os peregrinos beijavam a pedra, prestando culto a Alá
por meio dela”.
Todas as evidências fidedignas mostram que esse lugar foi
o centro do paganismo na Arábia, adaptado ao islamismo pelos fiéis muçulmanos e
mantido até hoje na essência de sua doutrina, onde na prática a Pedra Negra
acaba recebendo tanta veneração quanto Alá.
Alá – mais um ídolo
adorado na Caaba?
Para o historiador libanês, Albert Hourani, Alá
não passava de mais um dos deuses e ídolos do paganismo:
“O nome dado a
Deus era Alá, já em uso para um dos deuses locais (e hoje usado por judeus e
cristãos de língua árabe como o nome de Deus)”.7
Escritores e
historiadores que corroboram que Alá era mais um deus entre o panteão pagão da
Arábia:
Dr. Salim Almahdy, escritor e ex-islâmico:
“O islamismo,
Alá e grande parte do Alcorão já existiam antes de Maomé. O pai de Maomé
chamava-se Abed Alá, que significa escravo de Alá [...] A Enciclopédia do
islamismo nos fala que os árabes pré-islâmicos conheciam Alá como uma das
divindades de Meca [...] Segundo a Enciclopédia Chamber’s, ‘a comunidade onde
Maomé foi criado era pagã, com diferentes localidades que tinham os seus
próprios deuses, freqüentemente representados por pedras. Em muitos lugares
havia santuários para onde eram feitas peregrinações. Meca possuía um dos mais
importantes, a Caaba, onde foi colocada a pedra negra, há muito tempo um objeto
de adoração [...] Alá era o deus lua. Até hoje os muçulmanos usam a forma do
quarto crescente sobre as suas mesquitas. Nenhum muçulmano consegue dar uma boa
explicação para isso. Na Arábia havia uma deusa feminina que era a deusa sol e
um deus masculino que era o deus lua. Diz-se que eles se casaram e deram à luz
três deusas chamadas as filhas de Alá, cujos nomes eram Al Lat, Al Uzza e Manat.
Alá, suas filhas e a deusa sol eram conhecidos como os deuses supremos. Alá,
Allat, Al Oza e Akhbar eram alguns dos deuses
pagãos...’”(www.ictus.com.br).
Rushdie, autor de Versos
satânicos:
“Pensai também em Lat e Uzza, e em Manat [filhas de Alá] Elas
são os pássaros exaltados, e sua intercessão é de fato desejada [pelos
muçulmanos]”8
Mantran:
“Os árabes do Norte tinham crenças mais
realistas: espíritos, djinns representados por árvore, pedras. Acreditavam
também em divindades, muito numerosas, mas algumas eram veneradas pela maioria
das tribos; as mais importantes entre essas divindades eram três deusas: Manat,
Ozza e al-Lat, por sua vez subordinadas a uma divindade superior,
Alá...”.9
Mather e Nichols:
“Alá era uma divindade suprema já
conhecida dos povos do Norte da Arábia”.10
O que Maomé realmente fez foi
substituir o paganismo politeísta por um paganismo monoteísta. Afinal, todas as
evidências comprobatórias e históricas nos apontam para o fato de que Alá era um
ídolo tribal.
Os amigos de Deus
No catolicismo
romano é comum a reza aos “santos” mortos. O católico acredita que esses
cristãos, que em vida fizeram grandes obras de piedade, possam, depois de
mortos, ter acesso a Deus e realizar intercessões espirituais em favor dos vivos
que fazem preces em seus nomes.
Estranhamente, algo parecido acontece com
os muçulmanos. Na teologia islâmica, esses santos especiais são chamados de
“amigos de Deus”. É o que nos conta o dr. Hourani:
“A idéia de um caminho
de acesso a Deus implicava que o homem não era só criatura e servo dele, mas
também podia tornar-se seu amigo (wali). Essa crença encontrava justificativa em
trechos do Alcorão: ‘Ó vós, Criador dos céus e da terra, sois meu amigo neste
mundo e no próximo’ (Surata 12:101).
“Aos poucos, foi surgindo uma teoria
de santidade (wilaya). O amigo de Deus era o único que sempre estava perto dele,
cujos pensamentos estavam sempre nele, e que havia dominado as paixões humanas
que afastavam o homem dele. A mulher, tanto quanto o homem, podia ser santa.
Sempre houvera e sempre haveria santos no mundo, para manter o mundo no
eixo.
“Com o tempo, essa idéia adquiriu expressão formal: sempre haveria
certo número de santos no mundo; quando um morria, era sucedido por outro; e
eles constituíam a hierarquia que eram os governantes desconhecidos do mundo,
tendo o qutb, o pólo sobre o qual o mundo girava, como seu chefe [...] Os amigos
de Deus intercediam junto a ele em favor de outros, e sua intercessão tinha
resultados visíveis neste mundo. Trazia curas para a doença e a esterilidade, ou
alívio nos infortúnios, e esses sinais de graça (karamat) eram também provas da
santidade do amigo de Deus.
“Veio a ser largamente aceito que o poder
sobrenatural pelo qual um santo invocava graças para este mundo podia sobreviver
à sua morte, e podia-se fazer pedidos de intercessão em seu túmulo. As visitas
aos túmulos dos santos, para tocá-los ou orar diante deles, passaram a ser uma
prática complementar de devoção, embora alguns pensadores muçulmanos encarassem
isso como uma invocação perigosa, porque interpunha um intermediário humano
entre Deus e cada crente individual. O túmulo do santo, quadrangular, com um
domo abaulado, caiado por dentro, isolado ou dentro de uma mesquita, ou servindo
de núcleo em torno do qual surgia uma zawiya, era uma feição conhecida na
paisagem rural e urbana islâmica [...] Do mesmo modo como o Islã não rejeitou a
Caaba, mas deu-lhe novo sentido, também os convertidos do Islã trouxeram-lhe
seus próprios cultos imemoriais. A idéia de que certos lugares eram moradas de
deuses ou espíritos sobre-humanos estava generalizada desde tempos muito
antigos: pedras de um tipo incomum, árvores antigas, nascentes que brotavam
espontaneamente da terra, eram encaradas como sinais visíveis da presença de um
deus ou espírito ao qual se dirigia pedidos e se faziam oferendas, pendurando-se
panos votivos ou sacrificando-se animais.
“Em todo o mundo onde o Islã se
espalhou, tais lugares se tornaram ligados aos santos muçulmanos, e com isso
adquiriram um novo significado [...] Alguns dos túmulos dos santos tinham-se
tornado centros de grandes atos litúrgicos públicos. O aniversário de um santo,
ou um dia especial ligado a ele, era comemorado com uma festa popular, durante a
qual muçulmanos do distrito em torno ou de mais longe ainda se reuniam para
tocar o túmulo, rezar diante dele e participar de vários tipos de festividades
[...] Esses santuários nacionais ou universais eram os de Mawlay Idris (m. 791),
tido como fundador da cidade de Fez; Abu Midyan (c. 1126-97) em Tlemcem, na
Argélia Ocidental; Sidi Mahraz, santo padroeiro no delta egípcio, objeto de um
culto em que os estudiosos viam uma sobrevivência em nova forma do antigo culto
egípcio de Bubastis; e ‘Abd al-Qadir, que deu nome à ordem qadirita, em Bagdá
[...] Com o decorrer do tempo, o profeta e sua família passaram a ser vistos na
perspectiva da santidade. A intercessão do profeta no Juízo Final, acreditava-se
comumente, atuaria para a salvação daqueles que tinham aceito a missão
dele.
“Maomé passou a ser encarado como um wali, além de profeta, e seu
túmulo em Medina era um local de prece e pedidos, a ser visitado por si ou como
uma extensão do hadj. O aniversário do profeta (mawlid) tornou-se uma ocasião de
comemoração popular; essa prática parece ter começado a surgir na época dos
califas fatímidas, no Cairo, e estava generalizada nos séculos XII e XIV [...] O
santo, ou seus descendentes e os guardiães de seu túmulo, podiam lucrar com sua
reputação de santidade; as oferendas dos peregrinos davam-lhe riquezas e
prestígios [...] Alguns exemplos disso foram observados nos tempos modernos: na
Síria, o khidr, o misterioso espírito identificado com São Jorge, era
reverenciado em fontes e outros lugares santificados; no Egito, coptas e
muçulmanos comemoravam igualmente o dia de santa Damiana...”.11
Em seu
livro Entre os fiéis, o dr. Naipaul comenta a respeito da veneração que um
paquistanês desenvolveu por um desses santos:
“Disse ele: ‘Existem
categorias de fiéis. Alguns querem dinheiro, outros desejam uma boa vida no além
[...] Eu desejo encontrar Alá. Você só pode fazer isso através de um médium. Meu
murshid é o meu médium. Eu desejo amar meu murshid em meu coração. Alá está com
meu murshid. E quando meu murshid entra em meu coração, Alá está comigo [...] Só
posso conhecer Alá através do meu médium. O murshid não era o pir ou chefe da
comunidade, como eu pensei [...] era o santo cuja tumba havia
visitado”.12
A Bíblia desaprova a intercessão dos santos católicos, dos
“amigos de Deus” muçulmanos e de qualquer outra espécie de entidade. Somente a
Jesus Cristo, o Filho de Deus, a Bíblia tem outorgado esse direito de interceder
pelos homens: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens,
Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5).
A veneração aos
imãs
“Maomé, Fátima (filha do profeta) e os imãs eram vistos como
encarnações das inteligências por meio dos quais o Universo foi criado. Os imãs
eram vistos como guias espirituais no caminho do conhecimento de Deus: para os
xiitas, vieram a ter a posição que os ‘amigos de Deus’ tinham para os
sunitas”.13
Procissões
Algo comum no catolicismo é
uma romaria ou procissão em devoção a algum santo canonizado pela Igreja Romana.
O que poucos sabem é que no Islã os tais “amigos de Deus” também recebem a mesma
homenagem, principalmente entre os xiitas.
O dr. Naipaul, em uma de suas
viagens por países islâmicos, fez uma observação a esse respeito quando visitava
o Irã em 1979, no auge da Revolução Islâmica impetrada por Khomeini. Revolução
que, devido ao rigor religioso, punia todas as pessoas, inclusive estrangeiras,
que desrespeitassem as normas do Alcorão.
Vejamos o que ele nos
informa:
“O islamismo tem seus próprios mártires. Uma vez por ano,
desfilam seus mausoléus alegóricos pelas ruas; os homens ‘dançam’ com pesadas
luas crescentes, ora balançando as luas de um jeito, ora de outro; os tambores
batiam, e às vezes havia combates rituais com varas. As brigas de vara eram uma
simulação de uma antiga batalha, mas a procissão era de luto e comemorava a
derrota naquela batalha [...] A cerimônia — da qual participavam tanto hindus
como muçulmanos — era essencialmente xiita, e a batalha tinha a ver com a
sucessão do profeta, que fora travada no Iraque, que o homem especificamente
pranteado era o neto do profeta”.14
Quanto à procissão, a teologia
bíblica só tem uma resposta, tanto para os católicos como para estes grupos
específicos de islâmicos: “Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que
escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens
de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar” (Is
45.20).
Superstições islâmicas
“Mais difundida, na
verdade praticamente universal no islamismo, era a crença em espíritos e a
necessidade de descobrir um meio de controlá-los. Os jinns eram espíritos com
corpos de vapor ou chama que apareciam aos sentidos, muitas vezes sob forma de
animais, e podiam influenciar as vidas humanas; às vezes, eram maus, ou pelo
menos travessos, e, portanto, era necessário controlá-los.
“Também podia
haver seres humanos com poderes sobre as ações e vidas de outros, ou devido a
alguma característica sobre a qual não tinham controle — o olho mau — ou pelo
exercício deliberado de certas artes, que podiam despertar forças sobrenaturais.
Era um reflexo distorcido do poder que os virtuosos, os amigos de Deus, podiam
adquirir por graça divina. Mesmo o cético (escritor islâmico) Ibn Khaldun
acreditava na existência da bruxaria, e que certos homens podiam descobrir meios
de exercer poder sobre outros, mas achava isso repreensível. Havia uma crença
geral entre os muçulmanos em que tais poderes podiam ser controlados ou
contestados por encantos e amuletos colocados em certas partes do corpo,
disposições mágicas de palavras e figuras, sortilégios ou rituais de exorcismo
ou propiciação, como o zar, um ritual de propiciação, ainda difundido no vale do
Nilo”.15
Segundo o historiador Mantran, o próprio Maomé, quando começou a
receber a revelação de Alá e do Alcorão, acreditou estar possuído por jinns e
até pensou em cometer suicídio16.
O que percebemos com todas essas
conjecturas e colocações é que algumas vertentes do Islã, em determinadas
localidades, além de terem adotado práticas idólatras do paganismo, abraçaram as
superstições dos povos nômades da Arábia, e isso ainda permeia a religião do
profeta com toda a sua força mística.
Equilibrando os
fatos
Não queremos aqui desqualificar o Islã como mais uma religião
monoteísta. Assim como não é justo classificar o cristianismo bíblico como
idólatra, também não é razoável qualificar o islamismo alcorânico como tal.
Porém, tanto o “cristianismo” expressado pelos católicos romanos, como o
“islamismo” expressado pelos muçulmanos xiitas, em alguns pontos se desviam dos
padrões sagrados exarados pelos Escritos Sagrados que arrogam professar. Estamos
apenas fazendo um exame, de maneira generalizada, sobre pontos comuns no seio
teológico da religião islâmica. Aliás, esse é um debate e preocupação que também
tem afetado e gerado certa tensão entre os próprios pensadores
islâmicos.
O que descrevemos e compilamos nesta matéria é uma censura
contra uma religião que, apesar de levantar uma bandeira contra a idolatria e as
superstições, abraça em seu rol de adeptos fragmentados grupos que na verdade se
condenam em suas próprias práticas religiosas.
Sabemos que idolatria é
adoração ou veneração aos ídolos ou imagens, quando usada em seu sentido
elementar. Mas também pode indicar a veneração ou adoração a qualquer objeto,
santo, pessoa, instituição, ambição, etc, que tomem o lugar de Deus, ou que
diminuam a honra que lhe devemos prestar. Assim, idolatria consiste na adoração
a algum falso deus, ou a prestação de honras divinas a certas entidades. E
quando o islâmico venera a Pedra Negra, faz peregrinação a Caaba, reza ao pé do
túmulo de um “santo” (pedindo sua intercessão), está, na verdade, praticando
idolatria, pois invoca um intercessor que não é o Deus revelado na
Bíblia.
A própria recitação, na qual o indivíduo tem de declarar para se
tornar muçulmano, já é comprometedora em si mesma: “Não há outro Deus além de
Alá e Maomé é o mensageiro de Alá”. Se Alá fosse de fato o Deus bíblico, não
haveria necessidade de invocar um outro nome junto ao seu. A Bíblia diz: “E em
nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre
os homens, em que devamos ser salvos” (At 4.12). A salvação é só para aquele que
invoca o nome do único Senhor: “Porque, se com a tua boca confessares a Jesus
como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos,
será salvo” (Rm 10.9).
Facções islâmicas
Historicamente, o
islamismo tem sido marcado pelo surgimento de movimentos, grupos e correntes de
maior ou menor envolvimento político, de linhas fundamentalistas (conservadora)
ou moderna. Cada uma delas com uma tendência de interpretação dos conceitos
islâmicos. São eles:
Os sunitas: subdividem-se em quatro grupos
principais, cada um deles com uma escola de interpretação da sharia17:
hanafitas, malequitas, chafeitas e hambanitas. São os seguidores da tradição do
profeta Maomé, continuada por All-Abbas, seu tio. Calcula-se que 84% dos
muçulmanos sejam sunitas. Para eles, a autoridade espiritual pertence à
comunidade.
Os xiitas: também possuem sua própria interpretação da
sharia. Seu nome deriva da expressão “shi at Ali”, partido de Ali, que foi
marido de Fátima, filha de Maomé. Seus descendentes teriam a chave para
interpretar os ensinamentos do Islã.
Os sufistas: enfatizam a relação
pessoal com Deus e praticam rituais que incluem danças e exercícios de
respiração para atingir um estado místico. São membros praticantes do sufismo os
faquires18 da Índia e outras regiões da Ásia, e os dervixes19, da
Turquia.
Vejamos algumas divergências doutrinárias entre os sunitas e
xiitas:
Sobre a intercessão entre Alá e os seres
humanos
Sunitas: acreditam que ninguém pode atuar como
intercessor entre Alá e os seres humanos. “Diz: a Alá pertence exclusivamente o
direito de garantir intercessão. A Ele pertence o domínio dos céus e da terra.
No fim, é para Ele que todos serão retornados” (Surata 39:44).
Xiitas:
para os muçulmanos xiitas, os doze imames20 podem interceder entre a humanidade
e Alá: “...os muçulmanos xiitas devem conhecer seu imame de modo a serem salvos,
e os imames, assim como os profetas, claro, podem e intercedem pelos crentes
perante deus na hora do julgamento...” (Nasr 1987, 261).
Sobre o
papel e a condição dos imames dos dias atuais
Sunitas: para eles
os imames xiitas atuais (por exemplo, os aiatolás21) são humanos sem quaisquer
poderes divinos, considerados apenas como muçulmanos virtuosos. Já os “doze
imames” são particularmente respeitados por sua relação com Ali e sua esposa
Fátima, a filha de Maomé. Os sunitas acreditam que Ali e seus dois filhos,
Hassan e Hussein, foram altamente respeitados pelos três primeiros califas2 2 e
companheiros de Maomé. Os sunitas também consideram herético imputar a seres
humanos atributos de natureza divina tais como infabilidade e conhecimento de
todos os assuntos temporais e cósmicos.
Xiitas: acreditam que os imames
de níveis mais altos dos dias atuais (aiatolás) recebem sua orientação e
iluminação espiritual diretamente dos “doze imames”, em contato contínuo com
seus seguidores na terra todos os dias por meio de líderes espirituais
contemporâneos. Os aiatolás, portanto, desempenham um papel mediador vital. Por
causa de seu papel espiritual, os aiatolás não podem ser designados pelos
governantes, mas apenas pelo consenso de outros aiatolás.
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