segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Quem foi o primeiro Papa?

Todos sabem que o título “papa” é empregado para o supremo chefe da igreja católica apostólica romana. Este termo vem do grego e significa “pai”. Já em latim, é formado pela junção da primeira sílaba de duas palavras: pater patrum, que quer dizer “pai dos pais”. Mas o significado que os católicos mais gostam de conferir é: Petri apostoli potestatem accipiens, isto é, “aquele que recebe autoridade do apóstolo Pedro”.

Segundo a doutrina católica, o papa é o sucessor de São Pedro no governo da Igreja Universal e o vigário de Cristo na terra. Tem autoridade sobre todos os fiéis e sobre toda a hierarquia da igreja. Além da autoridade espiritual, exerce uma territorial (interrompida de 1870 a 1929), que, a partir de 1929, foi limitada ao Estado da cidade do Vaticano. É infalível quando fala em assuntos de fé e moral (ex-cathedra). Alguns títulos que o papa ostenta dão uma amostra deste exagero, a saber: Bispo de Roma, Primaz da Itália, Patriarca do Ocidente, Vigário de Jesus Cristo, Servo dos Servos de Deus, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano, Arcebispo e Metropolita da Província Romana e Santo Padre.

Durante a história de sua existência, o papado teve seus altos e baixos. Recentemente, o atual papa teve de pedir desculpas aos judeus por seu antecessor, o papa Pio XII, e se vê em dificuldades com a questão do celibato. Apesar de toda esta imponência de chefe de Estado, líder espiritual da maior parcela de cristãos do mundo (1 bilhão) e administrador de um império financeiro que a cada ano acumula bilhões de dólares, algumas perguntas precisam ser feitas. Existem provas bíblicas e históricas que indiquem que o papa é o sucessor do apóstolo Pedro? Pedro foi o primeiro papa e gozou de supremacia sobre os demais apóstolos? Teria Pedro fundado a igreja de Roma e transformado essa igreja na sede de seu trono episcopal?

O alvo de nossa matéria é apresentar respostas adequadas a perguntas cruciais como essas, visto que a Internet está repleta de sites de cunho apologético católico com o intuito de refutar as verdades das Escrituras Sagradas apresentadas pelos evangélicos.

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja

Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam

Esse trecho de Mateus 16.18 é tão especial para os fundamentos papais que foi escrito em enormes letras douradas na cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma. Destarte, ele é a fonte mais importante de toda a dogmática1 católica. A expressão Tu es Petrus, carrega atrás de si uma procissão de outras heresias erigidas em cima das interpretações de textos deslocados de seus respectivos contextos, interpretados de modo arbitrário pelos teólogos e doutores católicos romanos. É ele o genitor da infalibilidade papal, do poder temporal e dos demais desvios teológicos, contradições e distorções dessa igreja. Portanto, esclarecer à luz da Bíblia todo esse equívoco teológico é desestruturar a base em que se firma a eclesiologia2 católica.

Os pilares do papado

A tese católica se firma em três questionáveis pressupostos principais, a saber:

Cristo edificou a Igreja sobre Pedro, numa interpretação totalmente tendenciosa e arbitrária de Mateus 16.18,19.

Pedro fundou e dirigiu a Igreja de Roma, sendo martirizado nessa cidade.

A sucessão apostólica numa cadeia ininterrupta até nossos dias: de Pedro a Karol Wojtyla (João Paulo II).

Outrossim, há ainda outros argumentos apresentados pelos católicos romanos que se firmam nessa trilogia, mas, neste momento, analisaremos apenas os já mencionados.

Em que pedra a igreja está edificada?

O endereço eletrônico católico www.lepanto.org.br, da Frente Universitária Lepanto, é um site antiprotestante e, na página sobre a Igreja Católica, que interpreta Mateus 16.18, traz a seguinte declaração: “Esse ponto é muito importante, pois a interpretação truncada dos protestantes quer admitir o absurdo de que Nosso Senhor não sabia se exprimir corretamente. Eles dizem que Cristo queria dizer: Simão, tu és pedra, mas não edificarei sobre ti a minha Igreja, por que não és pedra, senão sobre mim. Ora, é uma contradição, pois Nosso Senhor alterou o nome de Simão para Kephas, deixando claro quem seria a pedra visível de sua Igreja”.

Entendemos que essa declaração nada mais representa do que o ecoar das suposições romanas na tentativa de harmonizar o que não pode ser harmonizado. A princípio pode até impressionar, mas carece totalmente de fundamentos. Leiamos o versículo: “Pois também eu te digo que tu és Pedro (Petrus), e sobre esta pedra (petra) edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16.18,19).

Jesus, ao proferir essa declaração, estava realmente afirmando que Ele próprio era a “pedra” sobre a qual sua Igreja seria edificada. Temos diversos motivos para esta interpretação. Vejamos:

Petra versus Petros

Ao referir-se a Pedro, Jesus emprega o termo grego Petros, que significa um seixo, pedregulho. Ao referir-se à edificação da Igreja, diz que ela seria edificada não sobre o Petros (Pedro), mas sobre a petra, um rochedo inabalável. Ora, Jesus fez nítida diferença semasiológica3 entre petra e Petros. Um é substantivo feminino singular e está na terceira pessoa; o outro, masculino plural, e se encontra na segunda pessoa. Além disso, o termo petra nunca é usado na Bíblia em relação a homem algum, somente em relação a Deus. Logo, tal verso nem de longe insinua alguma coisa sobre Roma, sucessão apostólica ou algo similar. Os católicos conseguem ver o que não existe no texto.

Edificação sobre quem?

A declaração “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” é a chave para entendermos toda a problemática. Jesus perguntou a “todos”, e não somente a Pedro, “quem Ele era”. “Disse-lhes ele [Jesus]: E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15). A ele — Pedro — foi revelado, em sua confissão, que Cristo era o Messias, o Filho de Deus, daí a frase: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja...”, ou seja, a igreja está edificada sobre a confissão de que Ele (Jesus) era o Filho de Deus.

A bem da verdade, a Igreja jamais poderia ser solidamente edificada sobre homem algum, nem mesmo Pedro, que, embora tenha sido um grande apóstolo, foi, no entanto, falível e passível de erros, como demonstra, de maneira sobeja, o contexto imediato: “Ele [Jesus], porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt 16.23), além de outros escritos do Novo Testamento em que podemos perceber a inconstância de Pedro (Mt 26.69-75).

Quem é a pedra?

O significado de Petros e petra está em perfeita concordância com o contexto doutrinário e teológico neotestamentário. Sendo Petros um fragmento tirado da grande rocha, há de se ver uma conotação de todos os cristãos como Petros, e isto é descrito posteriormente pelo próprio Pedro: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2.5).

Por sua vez, todas as “pedras vivas” estão edificadas sobre a grande Petra, que é Jesus: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2.19-21).

Agora, comparemos o texto de Mateus 16.18 com o texto seguinte:

“Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó” (Mt 21.42-44).

Indubitavelmente, tanto em Mateus 16.18 quanto em 21.44, Jesus é a pedra. Desde a época dos salmistas, passando pelo profeta Isaías, a palavra profética já anunciava o Messias como a pedra da esquina (Cf. Sl 118.22, Is 28.16).

Igualmente, é bom lembrar que na narrativa apresentada pelo evangelista Marcos é omitida a frase de Cristo: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mc 8.27-30). Isto não é de pouca relevância, pois Marcos, por muito tempo, foi companheiro de Pedro (1Pe 5.13) e, segundo Eusébio4 , foi de Pedro que Marcos coletou informações para redigir seu evangelho. Pedro, em nenhum momento, disse de si mesmo que era a rocha ou pedra da igreja, caso contrário, Marcos teria confirmado o fato de modo enfático. Se porventura o dogma da superioridade de Pedro é verdadeiro e de tamanha importância, como ensina a Igreja Católica, não parece praticamente inconcebível que os registros de Marcos e de Lucas silenciem a respeito?

O que significa Kephas?

Kephas significa pedra ou Pedro? João nos dá a resposta: “... Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). Fica claro que Cefas ou Kephas significa Pedro e não pedra. Para fazer jus à coerência e à lógica católica, Jesus deveria ter dito mais ou menos assim: “Tu és Kephas e sobre esta kephas edificarei...”, ou: “Tu és Pedro e sobre este Pedro edificarei...”, caso não houvesse nenhuma diferença.

Um acréscimo ao nome de Pedro

Teria Jesus mudado o nome de Simão Barjonas para Pedro ou apenas feito um acréscimo?

Ora, quando se muda um nome faz-se necessariamente uma substituição. O nome anterior não é mais mencionado, como nos casos de Abrão para Abraão (Gn 17.5) e de Sarai para Sara (Gn 17.15). Já no caso de Pedro, houve apenas um acréscimo, como bem atesta Lucas: “Agora, pois, envia homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro” (At 10.5,18,32; 11.13). Podemos ver que se trata de um acréscimo no nome e não a mudança do mesmo, como querem os teólogos do Vaticano. Além disso, Pedro continuou sendo chamado de Simão (At 15.14) ou Simão Pedro (Jo 21.2-3,7), algo que, no mínimo, seria estranho se o antigo nome tivesse sido trocado. Querer ver nisto uma ligação da suposta supremacia de Pedro com relação ao papado, certamente, é ir além dos limites admissíveis.

A quem pertencem as chaves?

Os católicos insistem em alardear que a simbologia das chaves (v. 19) significa supremacia jurisdicional sobre todo o cristianismo. Conquanto, sabemos que a chave foi realmente outorgada a Pedro para “abrir e fechar”. Todavia, devemos salientar que foram as chaves do “reino dos céus” e não da Igreja que lhe foram concedidas. O reino dos céus não é a Igreja.

Antes, as “chaves” estavam nas mãos dos fariseus, como lemos: “Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam” (Lc 11.52).

Essas chaves representam a propagação do evangelho de arrependimento de pecados, pelo qual todos os cristãos, e não Pedro apenas, podem abrir as portas dos céus para os pecadores que desejam ser salvos. Tanto é que, em Mateus 18.18, Jesus confia as chaves também aos demais apóstolos: “Em verdade vos digo [digo a vocês e não somente a Pedro] que tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”.

Pedro, portanto, foi o primeiro a usá-la por ocasião da festa de Pentecostes, quando quase três mil almas foram salvas (At 2.14-41). Depois, a usou para pregar ao primeiro gentio, Cornélio (At 10.1-48). É esta a chave que abre a porta, e ela não é prerrogativa exclusiva do hierarca católico romano. Ninguém tem o poder (ou direito) de monopolizá-la, como querem os católicos romanos.

Certo site ortodoxo5 , comentando sobre o assunto em questão, disse com muita propriedade: “Para a Igreja una e indivisa, a interpretação desta passagem do evangelho é toda outra. Como disse Orígenes (fonte comum da Tradição patrística da exegese), Jesus responde com estas palavras à confissão de Pedro: este se torna a pedra sobre a qual será fundada a Igreja porque exprimiu a fé verdadeira na divindade de Cristo. E Orígenes comenta: Se nós dissermos também: Tu és o Cristo, Filho de Deus Vivo, então tornamo-nos também em um Pedro [...] porque quem quer que seja que se una a Cristo torna-se pedra. Cristo daria as chaves do reino apenas a Pedro, enquanto as outras pessoas abençoadas não as poderiam receber? Pedro é, então, o primeiro ‘crente’, e se os outros o quiserem seguir podem ‘imitá-lo’ e receber também as mesmas chaves.

“Jesus, com as suas palavras relatadas no evangelho, sublinha o sentido da fé como fundamento da Igreja, mais do que funda a Igreja sobre Pedro, como a Igreja Romana pretende. Tudo se resume, portanto, em saber se a fé depende de Pedro, ou se Pedro depende da fé [...] Por isso mesmo, São Cipriano de Cartago pôde afirmar que a fé de Pedro pertencia ao bispo de cada Igreja local, enquanto São Gregório de Nissa escreveu que Jesus ‘deu aos bispos, por intermédio de Pedro, as chaves das honras do céu’. A sucessão de Pedro existe onde a fé justa e ortodoxa é preservada e não pode, então, ser localizada geograficamente, nem monopolizada por uma só Igreja e tampouco por um só indivíduo. Levando a teoria da primazia de Roma às últimas conseqüências, seríamos obrigados a concluir que somente Roma possui essa fé de Pedro e, neste caso, teríamos o fim da Igreja una, santa, católica e apostólica que proclamamos no Credo: atributos dados por Deus a todas as comunidades sacramentais centradas sobre a Eucaristia.

“Além disso, afirma a Igreja de Roma que é ela a Igreja fundada por Pedro e que essa fundação apostólica especial lhe dá direito a um lugar soberano sobre todo o Universo. Ora, a verdade é que, para além do fato de não sabermos realmente se São Pedro foi o fundador dessa Igreja Local e o seu primeiro papa, temos conhecimento de que outras cidades ou outras localidades menores podiam, igualmente, atribuir a si mesmas essa distinção, por terem sido fundadas por Pedro, Paulo, João, André ou outros apóstolos. Assim, o Cânone do 6º Concílio de Nicéia reconhece um prestígio excepcional às Igrejas de Alexandria, Antioquia e Roma, não pelo fato de terem sido fundadas por apóstolos, mas porque eram na altura as cidades mais importantes do Império Romano e, sendo assim, deram origem a importantes igrejas locais...”

Onde está a primazia de Pedro?

A lógica vaticana, insaciável em sua disposição em favorecer Pedro em detrimento dos demais apóstolos, esquiva-se em seus conceitos teológicos. Os católicos procuram, a qualquer preço, encontrar nas Sagradas Escrituras um elo de ligação entre a primazia de Pedro e a alegada supremacia do papa. Os argumentos apresentados são quase sempre furtados de seus contextos a fim de fortalecer essa cadeia de fantasia teológica. A pessoa que analisar o assunto pela ótica papista tende a ficar impressionada com a avalanche de textos que colocam Pedro no topo da lista de exclusividade. À primeira vista, a abundância de uma aparente primazia tende a sustentar essa corrente. No entanto, confrontaremos os textos citados e veremos que não são tão pujantes quanto parecem.

A Pedro foi conferida com exclusividade a chave dos céus
(Mt 16.19)


Este argumento foi satisfatoriamente respondido anteriormente.

A Pedro foi dado, por duas vezes, cuidar com exclusividade do rebanho de Cristo
(Lc 22.31,32; Jo 21.15,17)


Os católicos frisam nesses textos as palavras “confirmar” e “apascentar” e vêem nelas uma suposta primazia jurisdicional de Pedro. O engano deste argumento está em não mostrar que o apóstolo Paulo também “confirmava” as igrejas (Cf. At 14.22; 15.32,41).

Quanto ao “apascentar”, esta também não era uma exclusividade de Pedro, pois todos os bispos deveriam ter esta incumbência (At. 20.28). Para sermos coerentes, deveríamos dar este status de primazia aos demais, pois não só apascentavam como confirmavam as igrejas.

Pedro foi o primeiro a pregar um sermão no dia de Pentecostes
(At 2.14)


Ora, Pedro, ao pregar na festa de Pentecostes, estava apenas fazendo uso das chaves para abrir a porta da salvação. Demais disso, alguém tinha de tomar a palavra e coube a Pedro, que era o mais velho e intrépido. Mas, ao terminar a mensagem, ninguém o teve por especial, antes se dirigiram a todos com a expressão: “Que faremos varões irmãos?”. Dirigiram-se a toda a igreja e não apenas a Pedro (At 2.37).

Pedro foi o primeiro a evangelizar um gentio
(At 10.25)


Ao contrário do que pensam os católicos, o caso de Cornélio é um contragolpe no argumento romanista, pois Pedro teve de dar explicações perante a Igreja por ter se misturado e comido com um gentio. Raciocinemos, onde está a primazia de Pedro nesse episódio? Se a tivesse, porventura daria explicações perante seus supostos comandados? Certamente que não! Mas Pedro teve de se explicar, porque não possuía nenhum governo sobre os demais.

No catálogo dos apóstolos, o nome de Pedro sempre é colocado em primeiro lugar
(Mt 10.2-4, Mc 3.16-19, Lc 6.13-16, At 1.13)


É bom frisarmos que este primeiro lugar na lista de nomes é apenas de caráter cronológico e não funcional. Percebe-se que os quatro primeiros nomes da lista dos sinópticos são: Simão, André, João e Tiago, os primeiros a serem chamados para seguir o Mestre e, dentre eles, coube a Pedro ter uma prioridade cronológica. Todavia, em outros textos, como, por exemplo, Gálatas 2.9, seu nome não aparece em tal posição: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas...”.

Pedro escolhe Matias para suceder Judas Iscariotes
(At 1.15)


Lendo cuidadosamente Atos 1.15-26, vemos que Pedro apenas expôs o problema, qual seja, a falta de um sucessor para o cargo de Judas. No entanto, Matias foi eleito pela igreja por voto comum e não por decisão de Pedro: “E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum foi contado com os onze apóstolos” (v. 26).

O veredicto de Jesus

O fator agravante quanto à intenção de tornar Pedro soberano entre os demais apóstolos está nas palavras taxativas de Cristo — o ÚNICO Sumo Pastor, Chefe Supremo, Cabeça e Fundamento da Igreja — em não titubear e corrigir algumas precoces ambições de supremacia entre eles.

Certa feita, tal idéia foi sugerida ao Mestre que, no mesmo instante, a rechaçou dizendo: “... Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo...” (Mt 20.18-27).

O próprio Pedro desfaz essa lenda ao dizer: “ninguém tenha domínio sobre o rebanho...” (1Pe 5.1-3). Não se pode ver aí nenhum vestígio de superioridade, supremacia ou destaque sobre os demais, pois ele mesmo se igualava aos outros dizendo: “... que sou também presbítero com eles...” Pedro jamais mandou. Pelo contrário, foi mandado e obedeceu: “Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João” (At 8.14). E tudo isso faz jus às palavras de Jesus, que disse: “Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou” (Jo 13.16).

Pedro esteve em Roma?

Embora a Bíblia não diga nada a respeito, os católicos insistem em dizer que o fato de o apóstolo Pedro ter sido o fundador da igreja de Roma é incontestável. Atribuem, ainda, ao apóstolo Pedro, um pontificado de 25 anos na capital do Império. E, conseqüente (deduzem), ele tenha morrido ali.

É claro que estas ligações, em princípio, são de valor inestimável, pois, entrelaçadas, robustecem a tese vaticana da primazia do papado. Contudo, há de se frisar que somente a chamada tradição vem em socorro das causas romanistas nestas horas e, mesmo assim, de maneira dúbia.

Pedro não pode ter sido papa durante 25 anos, pois foi martirizado no reinado do imperador Nero, por volta do ano 67 ou 68 d.C. Subtraindo 25 anos, retrocederemos ao ano 42 ou 43. Nessa época, ainda não havia sido realizado o Concílio de Jerusalém (At 15), que ocorreu por volta do ano 48 ou 49 d.C., quando Pedro participou (mas não deveria, porque, segundo a tradição, nessa época o apóstolo estava em Roma). No entanto, ainda que Pedro, segundo a opinião católica, tivesse participado do Concílio de Jerusalém, a assembléia fora presidida por Tiago (At 15.13-21).

No ano 58 d.C., Paulo escreveu a epístola aos Romanos e, no capítulo 16, mandou uma saudação para muitos irmãos daquela cidade, mas Pedro sequer é mencionado. Em 62 d.C., o apóstolo Paulo chegou em Roma e foi visitado por muitos irmãos (At 28.30,31), todavia, nesse período, não há nenhuma menção de Pedro.

O apóstolo Paulo escreveu quatro cartas de Roma: Efésios, Colossenses, Filemom (62 d.C.) e Filipenses (entre 67/68 d.C.), mas Pedro não é mencionado em nenhuma delas. Se Pedro estava em Roma no ano 60 d.C., como se deve entender a revelação referida no livro de Atos, em que Jesus disse a Paulo: “Importa que dês testemunho de mim também em Roma?” (At 23.11). Se Pedro estava em Roma, não caberia a ele estar cumprindo esta função? Onde se encontrava o suposto papa de Roma nessa ocasião?

É por estas e outras razões que não acreditamos que Pedro tenha fundado ou presidido a Igreja de Roma, como afirmam os católicos.

O insustentável suporte da tradição

A tradição é um dos pilares nos quais se assenta a teologia romanista. O principal órgão da tradição é a Patrística, os escritos dos pais da Igreja. Essa tradição é de relevante valor à causa católica, pois dela advém toda a “lógica” da “sucessão apostólica”. É dela que é extraída a má interpretação de Mateus 16.18, da primazia de Roma, da corrente sucessória de São Pedro, etc. Na verdade, as coisas são bem diferentes quando analisadas de maneira criteriosa.

Dos inúmeros pais da Igreja, somente 77 opinaram a respeito do assunto de Mateus 16.18, sendo que 44 reconheceram ser a fé de Pedro a rocha. Os outros 16 julgaram ser o próprio Cristo e somente 17 concordaram com a tese vaticana. Nenhum deles afirmou a infalibilidade de Pedro e tampouco o tinham como papa. Exemplo disso é Santo Agostinho que, em uma de suas obras,13 expressamente afirma que sempre, salvo uma vez, ele havia explicado as palavras sobre esta pedra — não como se referissem à pessoa de Pedro, mas sim a Cristo, cuja divindade Pedro havia reconhecido e proclamado.

Diz certa fonte católica14 que: “Se a corrente da sucessão apostólica por alguma razão encontra-se interrompida, então as ordenações seguintes não são consideradas válidas, e as missas e os mistérios, realizados por pessoas ilegalmente ordenadas, estão desprovidos da graça divina. Essa condição é tão séria que a ausência de sucessão dos bispos em uma ou outra denominação cristã despoja-a da qualidade de Igreja verdadeira, mesmo que o ensino dogmático presente nela não esteja deturpado. Esse foi o entendimento da Igreja desde o seu início”.

Finalizando...

Procuramos não ser prolixos ao historiar sobre esta questão. Todos sabemos que o trono dos papas teve seus momentos de vacância. Muitos papas conquistaram este título por dinheiro; outros, considerados legítimos, foram condenados como hereges; e quantos, pela ganância do cargo, foram envenenados por seus rivais. Houve também os nomeados por imperadores e, quando não, havia três ou mais papas se excomungando mutuamente pela disputa da cadeira de São Pedro. Sem falar, é claro, da época negra da pornocracia (influência das cortesãs no governo).

Não é debalde que a obra literária clássica Divina comédia, de Dante Alighieri, coloca vários papas no inferno. Há, ainda, uma tremenda contradição nas muitas listas dos pontífices romanos expostos por historiadores católicos, nas quais os nomes de tais sucessores aparecem trocados ou ausentes, sem consenso algum. Não cremos que estes homens sejam os verdadeiros sucessores da cátedra de Pedro.

A bem da verdade, essa tal sucessão ininterrupta e contínua dos papas é totalmente arrebentada e falsa. É por demais ultrajante, mesmo para uma mente mediana suportar tamanha incongruência.

Pelo que foi exposto, podemos considerar serenamente que “Pedro nunca foi papa e tampouco o papa é o vigário de Cristo”.

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