Em sua edição de novembro de 2000, a revista Visão Espírita estampa a seguinte
matéria de capa: Pastor espírita Nehemias Marien, um pastor autenticamente
cristão, um homem verdadeiramente evangélico. O objetivo, com isso, é elogiar
Nehemias Marien, ressaltando sua autenticidade e chamando-o de verdadeiro
pastor. Simplesmente pelo fato de ele concordar e defender a doutrina
espírita.
Na entrevista concedida a esse periódico, Nehemias Marien
alterou a verdade bíblica, a teologia cristã e os conceitos evangélicos, tão
sagrados para a fé cristã. Tudo isso para tentar legitimar aquilo que é
explicitamente contrário à Palavra de Deus. Declarações como: Considero a Bíblia
o mais antigo e completo manual de psicografia e mediunidade e Jesus, o mais
perfeito dos médiuns do mundo (p. 47). O Credo dos Apóstolos afirma que Jesus
desceu ao hades e voltou de lá reencarnado (p. 48). Eu acho que o verdadeiro
servo de Deus é um médium (p. 49). São declarações explicitamente contrárias à
Palavra de Deus e à fé evangélica.
Sobre a questão da comunicabilidade
com os espíritos, Nehemias Marien declara: Literalmente, de Gênesis a
Apocalipse, a Bíblia assegura essa comunicabilidade. É vasta a galeria dos
médiuns que, na Bíblia, entram em transe no cumprimento de sua missão. Cito
alguns: Abraão, José, Moisés, Samuel, Elias, Eliseu, Daniel, Isaías e Jeremias.
Os profetas eram médiuns e todos os seus oráculos eram feitos em transes
mediúnicos no ápice de seus êxtases espirituais. É isso que eu estava tentando
passar. Eu tenho (...) até não entendo bem e me perturbo com este espírito meu
(...) mas tenho a impressão de que se trata de uma índia nhambiquara, muito
querida, mãe de minha mãe, minha avó Joana. Eu sinto, assim, uma certa posse
mediúnica, uma forte energia dela para mim. Chego mesmo a percebê-la envolta em
névoa. É um instante mágico, quântico, místico. Todas as vezes que abro o texto
sagrado, para as homilias dominicais, sinto que estou fora de mim (p.
50).
Declarações absurdas
Embora respeitamos todas as
pessoas, e também suas idéias, não podemos, no entanto, nos calar quando a
Bíblia Sagrada, o livro mais importante da religião cristã, é citado para
legitimar algo que ela mesma condena com veemência.
Um líder religioso
cristão que defende doutrinas especificamente espíritas e a prática do
comportamento homossexual certamente não pode ser um cristão autêntico. No livro
Jesus, a luz da nova era (pp. 142 e 143) Nehemias declara: Esta é uma
confidência pastoral. É um depoimento sobre a ação pastoral que mais me
embaraçou desde o primeiro instante, mas que contou com minha simpatia e meu
acolhimento. Dois altos funcionários do governo federal estavam se amando e
desejavam receber a bênção do Senhor (...) Pus-me de joelhos em oração pedindo
que a luz do divino Espírito Santo me iluminasse. Pensei no que faria Jesus, o
sumo e bom Pastor das ovelhas, se estivesse em meu lugar (....) O casamento é
mais que rito e cerimônia. É mais que um sacramento da Igreja e muito mais que
um contrato civil. O casamento é uma união de almas, e não um ato
biológico.
Assim como o poema de amor do rei Davi ao chorar a morte do
guerreiro Jônatas: ‘O meu amor por ti é superior ao de muitas mulheres. Quem me
dera ter morrido em teu lugar’, é semelhante ao amor da moabita Rute para com a
judia Noemi: ‘Aonde tu fores irei eu (...) Só a morte separar-me-á de ti’, há
também sensíveis paralelos entre o apóstolo Paulo em relação a Lucas e a
Timóteo, bem como entre João e o próprio Jesus (...)
O fato é que, embora
tenha oferecido o altar da minha Igreja para essa amorável relação, o casal
preferiu a discrição de um lar no Posto Seis de Copacabana (RJ). A liturgia,
bastante doméstica, constou de uma oração pastoral e a leitura da primeira
epístola de Paulo aos coríntios, capítulo treze, sobre a qual fiz a minha
homilia e aspergi em ambos água que eu mesmo colhi no rio Jordão, no mesmo
pressuposto lugar de batismo de Jesus. Encerrei-a impetrando a bênção aarônica e
a bênção apostólica. Não usei o ritual da tradição religiosa e nem houve o
detalhe do sim das alianças. Houve, sim, um transparente sinal de amor inundando
os corações. Foi uma inédita experiência em minha vida pastoral e não digo que
será a última.
Uma blasfêmia inominável
Será que a doutrina
cristã e evangélica endossa esse rito de unir dois homens como marido e mulher
(ou marido e marido)? Endossa as suspeitas sobre o caráter de Davi e Jônatas,
Rute e Noemi, Paulo, Lucas e Timóteo? E também àquilo que só pode ser
considerado de blasfêmia inominável: a suspeita de prática homossexual entre
João e Jesus?
Como admitir que o nosso sumo sacerdote, santo, inocente,
imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus (Hb
7.26), pudesse se envolver com tais práticas? Como admitir a união homossexual
entre Paulo e Lucas, ou Timóteo, quando ele mesmo, o apóstolo Paulo, condena
essa prática como conseqüência do pecado, do afastamento de Deus por parte do
homem? Vejamos o que o apóstolo Paulo diz em Romanos 1.27: E, semelhantemente,
também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua
sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e
recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro (destaque em
negrito do autor).
E não foi só isso que ele escreveu. Disse mais: Não
sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os
devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os
sodomitas... herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido; mas haveis
sido lavados, mais haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em
nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus (1Co 6.9-11; destaque em
negrito do autor).
Diferenças entre cristianismo e
espiritismo
Embora Allan Kardec alegasse que O cristianismo e o
espiritismo ensinam a mesma coisa (O Evangelho Segundo o Espiritismo, p.546,
Opus Editora, edição especial, 1985), não há dúvida de que essa declaração não
corresponde à realidade. O espiritismo nega fundamentalmente as doutrinas
básicas do cristianismo ao desprezar a obra da redenção mediante a morte de
Jesus Cristo na cruz e sua deidade absoluta.
Quanto à obra redentora de
Jesus, efetuada na cruz do Calvário, Leon Denis, um dos grandes escritores
espíritas, se pronuncia da seguinte maneira: Não, a missão de Cristo não era
resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade. O sangue, mesmo de um Deus,
não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo
(Cristianismo e espiritismo, p. 88, 5a edição).
Um cristão se
pronunciaria desse modo blasfemo? Obviamente que não. Tal declaração só poderia
partir de um pseudocristão. O cristão autêntico naturalmente se valeria do
ensino de Cristo sobre sua missão redentora. Diz a Bíblia: Desde então começou
Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer
muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e
ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia (Mt 16.21). E mais: Bem como o Filho do
homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em
resgate de muitos (Mt 20.28).
Ora, como um pastor pode dizer que crê na
reencarnação como o único meio de redenção para saldar seus débitos e alcançar a
purificação, tornando-se um espírito puro? Só um pseudocristão poderia afirmar
que No estudo da Bíblia, as evidências da reencarnação são clamorosas e eu
admito ser o espiritismo, como eu disse anteriormente, a mais caudalosa vertente
do cristianismo. Você encontra, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento,
evidências claras da reencarnação, isto é, do prosseguir da vida (p.
47).
Não precisamos ir muito longe para contestar tal declaração. Devemos
apenas lançar mão do Novo Testamento, onde encontramos, de página a página, o
ensino de Jesus confrontando a reencarnação pregada pelo espiritismo. Vejamos as
diferenças entre uma e outra doutrina.
A doutrina da reencarnação pode
ser definida por quatro proposições. A saber:
1) Pluralidade de
existência.
2) Progresso contínuo até a perfeição.
3) Alcance da meta
final por esforços próprios.
4) Espírito puro.
Em alguma parte dos
evangelhos Jesus ensinou sobre essas quatro proposições? Absolutamente! Lendo o
texto de Lucas 16.19-31, extraímos as seguintes lições:
1) O homem rico e
Lázaro morrem. Lázaro foi levado para o seio de Abraão, onde era
consolado.
2) O rico morreu e foi para o hades, lugar de tormento
consciente.
3) Não havia a possibilidade de o rico sair do lugar de tormento
em que se encontrava, e Lázaro do lugar de consolo consciente. Eram duas
situações irreversíveis.
Na cruz estavam dois salteadores. Um se salva
recebendo de Cristo a promessa, Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
Paraíso (Lc 23.43). O outro se perde por recusar o socorro de Cristo. São duas
situações definitivas e irreversíveis.
Prevalece, então, o ensino claro
de Cristo:
1) Unicidade de vida terrestre.
2) Julgamento imediato após
a morte.
3) Recompensa ou castigo posterior, sem liberdade de vaguear pela
erraticidade e sem promessa de novas vidas.
Assim, vale, mais uma vez, a
pergunta: Nehemias Marien é um cristão autêntico, conforme declarou a revista
Visão Espírita? O cristão autêntico é aquele que segue os ensinos de Cristo,
como aponta Mateus 28.19: Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. É isso que
Nehemias Marien está fazendo?
De acordo com a afirmação da revista Visão
Espírita, a reencarnação é uma espécie de calcanhar de Aquiles no relacionamento
entre as igrejas ditas cristãs e o espiritismo (p. 47). Engana-se ela. Essa
doutrina não é o calcanhar de Aquiles para as igrejas cristãs porque não existe
nenhuma compatibilidade entre ser cristão e crer na reencarnação. Ou alguém é
cristão e, como tal, rejeita a reencarnação, ou é reencarnacionista e, como tal,
não pode ser considerado cristão.
Textos bíblicos citados por Nehemias
Marien para apoiar a reencarnação
Para defender a doutrina da
reencarnação, Nehemias Marien cita duas passagens da Bíblia: 1 Pedro 3.19 e
Judas 6. Justamente Pedro, considerado o primeiro dos Papas e líder do Colegiado
dos Doze, afirma que Jesus foi pregar aos espíritos em prisão, referindo-se à
primeira citação.
Por que ele, Nehemias Marien, não citou o versículo 20
da passagem em pauta? Se inserirmos as palavras desse versículo ao anterior, que
fala sobre prisão, veremos que somente aqueles que foram desobedientes nos dias
de Noé são mencionados no texto. Isto significa que o Espírito de Cristo, que
estava em Noé, falou aos desobedientes e perdidos nos tempos passados: Da qual
salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da
graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito
de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos
que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir (1Pe
1.10-11).
Como vemos, não há nenhuma base para ensinar que a reencarnação
pode oferecer uma segunda chance de salvação.
Em relação ao texto de
Judas 6, a Bíblia não fala de mortos, mas de anjos desobedientes que
acompanharam Satanás em sua rebelião contra Deus (Conferir Is 14.12-14 e Ez
28.14-16). O texto de Judas 6 é claro: E aos anjos que não guardaram o seu
principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em
prisões eternas até o juízo daquele grande dia. O versículo fala de prisões
eternas, enquanto a reencarnação admite o progresso contínuo, depois da morte,
até a perfeição.
Jesus, um médiun?!
Não dá para acreditar
que um pastor possa abrir a boca para declarar que Jesus é o mais perfeito dos
médiuns do mundo (p. 47). Isso nada mais é do que absorver os ensinos de Allan
Kardec. Diz o codificador do espiritismo: Segundo definição dada por um
espírito, ele era um médium de Deus (A Gênese, p. 1034, Opus Editora, edição
especial, 1985). Esse espírito que identificou Jesus como um médiun é aquele de
quem fala Paulo em 2 Coríntios 11.14: E não é maravilha, porque o próprio
Satanás se transfigura em anjo de luz.
O apóstolo Pedro identificou o
Senhor dizendo: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.16). Identificar o
Senhor Jesus como Filho do Deus vivo é reconhecer sua deidade absoluta: Por
isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o
sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus
(Jo 5.18).
Jesus não é um médium, intermediário entre os vivos e a alma
dos mortos. Ele é o único caminho entre Deus e os homens, conforme sua própria
declaração em João 14.6: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao
Pai, senão por mim. E é também o único mediador entre Deus e os homens: Porque
há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem (1 Tm
2.5).
É impossível ser, ao mesmo tempo, pastor evangélico e
espírita.
Não há nenhuma possibilidade de isso acontecer. É
impossível! Pois os conceitos espíritas são terrivelmente contrários aos ensinos
da Palavra de Deus. O espiritismo nega a inspiração divina da Bíblia, a doutrina
da Trindade, a divindade de Jesus Cristo, a ressurreição corporal de Jesus, a
redenção feita por Jesus na cruz do Calvário, a existência do céu como um lugar
de felicidade e gozo, o inferno como um lugar de tormento eterno e consciente, a
existência do diabo e dos demônios, a ressurreição do corpo, os milagres de
Jesus, entre outras coisas.
Em contrapartida, contrariando a Bíblia, o
espiritismo ensina a comunicação com os mortos, a reencarnação e a salvação
pelas obras, entre outros ensinos. Por isso afirmarmos categoricamente essa
impossibilidade. No entanto, Nehemias Marien agradece a revista Visão Espírita
pela entrevista que concedeu e elogia esse periódico pela oportunidade de
manifestar, espontaneamente, sua forma de crer. Agiu dessa maneira porque
concorda plenamente com o que foi declarado a seu respeito. No término da
entrevista, veja o que ele disse: Agradeço, emocionado, a presença de vocês da
revista ‘Visão Espírita aqui na minha igreja e o privilégio desta entrevista,
que abre espaço para uma conversa com o leitor. Rogo a Deus que os abençoe e
faça germinar essas sementes evangélicas (p. 51).
Diante disso, temos um
só parecer: Nehemias Marien é espírita, e não pastor evangélico. Há alguma
dúvida?
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