Muitas pessoas têm-se levantado para negar os relatos da Bíblia a respeito de
Jesus. Muitos livros foram escritos com essa finalidade, além de artigos em
jornais e em revistas. Sem contar os diversos programas de televisão que se
esforçam para demonstrar que o Jesus da Bíblia é uma fraude.
Um episódio
recente do show do apresentador Peter Jennings, pela rede de televisão
norte-americana: ABC, hospedou o que poderia ser descrito como uma propaganda
inédita, de duas horas de duração, feita para defender duas versões extremas do
fundamentalismo. No extremo liberal havia o fundamentalismo do “Seminário de
Jesus”1 – um grupo de especialistas duvidosos que fazem afirmações que não podem
provar a contento. No outro extremo, os pentecostais de Alexandria, Louisiana –
uma denominação fundamentalista que está no limite entre igreja e seita, pois
negam explicitamente a Trindade e defendem o ensino de que, a menos que as
pessoas sejam batizadas em seu grupo, usando sua fórmula, e apresentem a
evidência de falar em línguas, não podem ser salvas.2
Logo no começo da
reportagem, intitulada “Em busca de Jesus”, Jennings promoveu a velha e falsa
dicotomia iluminista entre a fé e a razão. Nas palavras dele: “Nós tentamos
respeitar o que as outras pessoas acreditam, enquanto tentamos descobrir o que
nós podemos saber de fato” (ênfase acrescentada). Trocando em miúdos, ele
insinuou que os religiosos vendem uma fé influenciada pelas emoções; por outro
lado, os repórteres apresentam os fatos, embasados pelas
evidências.
Conforme a transmissão prosseguia, foi surgindo um Jesus
totalmente diferente daquele que é apresentado na Bíblia. De acordo com
Jennings, a Bíblia não pode ajudar muito na hora de reconstruir o Jesus
histórico. Do seu ponto de vista, os evangelistas apresentam quatro versões
diferentes e contraditórias da vida de Jesus, não há evidência confiável quanto
a quem são os autores e há um virtual consenso entre os eruditos a respeito de
que, não importa quem os tenha escrito, os autores não eram testemunhas oculares
e podem ter feito seus registros um século após a morte de Jesus.
O
retrato de Jesus que surgiu não era particularmente elogioso. Contrário ao que
Ele disse a respeito de si mesmo, de que era Deus em forma humana, Jesus foi
transformado em um mero homem comum – Ele teria sido o filho ilegítimo de Maria
e o relato da concepção virginal poderia ter sido tramado para encobrir o caso.
Talvez Ele não tivesse nascido em Belém. A traição de Jesus por Judas
provavelmente fora inventada por cristãos como uma calúnia anti-semita. Ele não
teria sido enterrado, mas deixado na cruz e devorado por animais diversos, desde
corvos até cães vira-latas. Sua ressurreição talvez tenha sido uma história
emprestada das religiões de mistério, que nada mais são do que seitas pagãs
orientais.
Infelizmente, essa é só a ponta de um iceberg traiçoeiro.
Embora esteja além dos limites deste artigo responder a cada uma das acusações
amargas levantadas pelos críticos, elas, porém, têm sido e continuarão a ser
tratadas pela revista Defesa da Fé. Enquanto nos esforçamos “para destruição das
fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o
conhecimento de Deus” (2Co 10.4-5), o refrão de um antigo hino soa ainda mais
veraz: “Quão firme fundamento, ó santos do Senhor, é dado para crermos em seus
pronunciamentos”. Começaremos demolindo as seguintes afirmações articuladas por
Jennings:
“Os especialistas há muito nos dizem que eles não aceitam
literalmente tudo o que lêem no Novo Testamento, porque o Novo Testamento tem
quatro versões diferentes e às vezes contraditórias da vida de Jesus – os
evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Não existe nenhuma evidência
confiável a respeito de quem são de fato os autores. Há consenso de que eles não
eram testemunhas oculares. De fato, os evangelhos foram escritos entre 40 e 100
anos após a morte de Jesus”3.
Verdade do evangelho ou conversa
mole?
Durante toda a reportagem de Jennings foram feitas muitas
afirmações dogmáticas, mas não houve nenhum esforço para tentar embasá-las com
provas. Em outras palavras, nunca se comprovou a idéia de que os evangelhos
contêm versões contraditórias da vida de Cristo. Na verdade, longe de serem
contraditórios, os evangelhos são claramente complementares. Por todos esses
séculos, incontáveis eruditos e comentaristas têm atestado este fato. Se os
escritores dos evangelhos tivessem dito exatamente as mesmíssimas coisas e do
mesmíssimo jeito, aí é que se poderia levantar a suspeita de que teria havido
alguma conspiração, e de que um copiou o texto do outro.
Além disso, até
mesmo uma avaliação superficial do tal “Seminário de Jesus” revela que os
participantes têm preconceito contra o sobrenatural e, portanto, rejeitam a
priori os relatos do evangelho a respeito da ressurreição de Cristo. Usando
bolinhas coloridas como cédula de eleição, eles rejeitam a autenticidade das
declarações que Mateus, Marcos, Lucas e João atribuíram a Cristo. Do ponto de
vista deles, pode-se acreditar em menos de 20% dos ditos de Jesus. Os membros do
“Seminário” evidentemente odeiam o evangelho de João, mas amam o evangelho de
Tomé – e isso a despeito do fato de que Tomé inclui passagens tão patentemente
ignorantes e politicamente incorretas como a seguinte conversa entre Pedro e
Jesus: “Simão Pedro lhes disse: ‘Faça Maria nos deixar, pois as fêmeas não
merecem a vida’. Jesus disse: ‘Veja, eu farei que ela se torne um homem, para
que ela também se torne um espírito vivente, semelhante a vós, homens. Porque
cada mulher que se esforça para ser masculina entrará no reino do
céu’”4.
Apesar disso, os eruditos do “Seminário” consideram o evangelho
de Tomé mais digno de confiança e importante do que Mateus e Lucas,
particularmente no que diz respeito a recriar as palavras originais do Jesus
histórico.5 Seu preconceito é revelado na especulação de que o evangelho de Tomé
é anterior e mais autêntico do que os relatos bíblicos, a despeito do fato
evidente de que ele foi influenciado pelos conceitos gnósticos do segundo
século, que estiveram em moda muito tempo após o período do Novo
Testamento.6
Finalmente, a noção de que não há evidência confiável a
respeito de quem escreveu os evangelhos, de que os escritores não eram
testemunhas oculares e de que eles provavelmente escreveram os evangelhos num
período de 40 a 100 anos após a morte de Jesus é completamente falsa. A
primitiva igreja cristã ofereceu uma afirmação virtualmente unânime quanto à
autoria, e nunca existiu alguma teoria à altura de sequer rivalizar com essa
afirmação. A igreja primitiva também reconheceu explicitamente os evangelhos
canônicos precisamente porque eles foram escritos pelas testemunhas oculares ou
por seus associados. Enquanto uma multidão de supostos evangelhos, incluindo o
de Tomé, foi rejeitada por causa dos critérios restritivos para a aceitação,
Mateus, Marcos, Lucas e João jamais estiveram em dúvida.
No que diz
respeito à datação dos evangelhos, os membros do “Seminário de Jesus” se opõem
até mesmo a seus colegas liberais. Conforme disse Craig Blomberg, erudito em
Novo Testamento, as datas aceitas pelos especialistas são: “Marcos na década de
70, Mateus e Lucas na de 80, e João na de 90”. Nas palavras do próprio Blomberg,
essas datas estão bem dentro do período em que viveram as “testemunhas da vida
de Jesus, incluindo as testemunhas hostis que teriam provido alguma correção,
caso surgissem falsos ensinos a respeito de Jesus”.7 Além disso, há razões
concretas que sugerem que todo o Novo Testamento estava completo por volta de 70
A.D., incluindo o fato de que a destruição de Jerusalém e do Templo (que ocorreu
em agosto do ano 70 A.D.) é profetizado repetidamente, mas nunca no Novo
Testamento se diz que a profecia se cumpriu.8
Deus ou
semideus?
Uma das afirmações mais arrepiantes feita na reportagem “Em
busca de Jesus” é a de que Jesus teria sido um mero homem comum, cuja concepção
virginal fora na verdade roubada da mitologia pagã ou, pior ainda, inventada
para encobrir a promiscuidade da sua mãe. John Dominic Crossan, um dos
fundadores do “Seminário de Jesus”, alega que havia dúzias de histórias de
nascimentos virginais circulando na mitologia grega e na romana durante o
primeiro século. Crossan diz: “Isso tudo diz respeito à mitologia grega e à
romana, e o que eu posso fazer? Devo acreditar em todas essas histórias, ou devo
dizer que todas elas são mentiras, exceto a nossa história cristã?”. Crossan
então oferece como exemplo o mito do nascimento de César Augusto, de acordo com
o qual sua mãe ficou grávida do deus solar Apolo: “Sua mãe estava no templo de
Apolo, deitou lá e dormiu. Durante a noite ela foi inseminada por Apolo na forma
de uma serpente e, portanto, o menino que nasceu era divino, Augusto, e é claro
que milhões de pessoas devem ter dito no primeiro século: ‘vejam o que ele fez.
Ele trouxe paz ao império que estava em guerra. Ele acabou com as guerras civis.
Ele é o nosso homem’”.
E isso não é tudo. Robert Funk, presidente do
“Seminário de Jesus”, sugere que Jesus talvez fosse o filho ilegítimo de um
soldado romano e que o relato da concepção virginal fora inventado para encobrir
isso.9 Jennings explica a suposta evidência para defender esse ponto de vista:
“Após as histórias a respeito do nascimento, José desaparece do Novo Testamento.
No evangelho de João alguém que critica Jesus diz que ninguém sabe quem é o pai
dele, e um escritor anticristão do segundo século menciona o boato de que um
soldado romano havia engravidado Maria”.
Quando ouvi essas afirmações
pela primeira vez não pude deixar de pensar o seguinte: se esses homens estavam
defendendo a idéia de que Jesus era ilegítimo, ao invés de divinamente imortal,
e que sua mãe era fornicadora, seria bom para eles que tivessem certeza absoluta
de estarem absolutamente certos. Caso estivessem errados – e estão – são
culpados de blasfemar contra Deus. Deveriam ser mais cautelosos com o que
defendiam, só para o caso de estarem enganados. De fato, Jennings, Crossan e
Funk estão completamente errados.
Em primeiro lugar, a afirmação de
Jennings de que o nascimento virginal de Jesus é muito semelhante à história
contada a respeito de Augusto e do deus solar romano Apolo seria hilária, caso
não fosse tão blasfema. Um deus sol em forma de uma serpente que faz sexo com
uma mulher não tem nenhuma correspondência com o Salvador nascido de uma virgem.
Também não existem “dúzias de histórias” do mesmo tipo que o relato da concepção
virginal de Jesus, como Crossan afirma. Mais uma vez, ele faz uma afirmação
dogmática sem oferecer uma base de apoio para ela. A verdade do assunto é que a
evidência histórica usada para defender a veracidade das histórias extrabíblicas
de nascimentos virginais é nula. Além do mais, exige muita credulidade da parte
de Jennings acreditar que autores judaicos monoteístas como Mateus e Lucas
poderiam empregar mitologia pagã em suas narrativas. O eminente historiador e
erudito Raymond E. Brown explica que as histórias conhecidas a respeito de
deuses que fazem sexo com mulheres não têm nenhum
ponto em comum com a
concepção virginal. Brown diz:
“Paralelos não judaicos têm sido
encontrados nas religiões mundiais (o nascimento de Buda, de Krishna e do filho
de Zoroastro), na mitologia grego-romana, nos nascimentos dos faraós (com o deus
Amon-Rá agindo através do pai) e nos nascimentos sensacionais dos imperadores e
filósofos (Augusto, Platão etc). Mas esses “paralelos” sempre envolvem um tipo
de hieros gamos em que um macho divino, em forma humana ou outra, insemina uma
mulher, seja através do ato sexual normal, seja por meio de uma forma substituta
de penetração. Eles não são realmente semelhantes à concepção virginal
não-sexual que está no âmago das narrativas da infância de Jesus, concepção esta
em que nenhum elemento ou deidade-macho insemina Maria... Portanto, nenhuma
busca por paralelos nos tem dado uma explicação verdadeiramente satisfatória de
como os primitivos cristãos chegaram à idéia de uma concepção virginal – a
menos, é claro, que ela realmente tenha acontecido
historicamente”.10
Além disso, a afirmação de Jennings de que “no
evangelho de João alguém que critica Jesus diz que ninguém sabe quem é o pai
dele, e um escritor anticristão do segundo século menciona o boato de que um
soldado romano havia engravidado Maria” é completamente falsa. A declaração
atribuída ao evangelho de João desconsidera seu contexto, e dá crédito à calúnia
de um escritor anônimo do segundo século é tão repreensível quanto dizer que uma
fonte desconhecida insinuou que Jennings costumava fazer sexo com meninos
pequenos antes de suas apresentações na televisão. Isso apenas mancharia, de
forma tremendamente injusta, o nome de um respeitado apresentador. Essa analogia
pode parecer extrema, mas estou falando de um boato puramente hipotético
levantado contra um jornalista, enquanto Jennings e os outros na verdade
defenderam uma acusação leviana contra a mãe do santo Filho de Deus
encarnado.
Finalmente, Jennings deixou cair o disfarce do seu preconceito
contra o sobrenatural quando, após dizer que a discussão quanto ao fato de Jesus
ser ou não o Filho de Deus é uma questão de fé, continuou a oferecer explicações
ofensivamente naturais, tais como Maria ter sido engravidada por um soldado
romano. Eu já escrevi um livro inteiro para demonstrar que a ressurreição de
Jesus Cristo não é baseada em fé cega, mas arraigada na história e nas
evidências, e que através da ressurreição sua afirmação de ser o Filho de Deus
foi vindicada.11 Conforme o dr. Simon Greenleaf, famoso professor real de
Direito na Universidade de Harvard, e sem dúvida a maior autoridade americana em
evidência legal do século XIX, a ressurreição de Jesus Cristo é um dos fatos da
história antiga mais bem atestados. Por meio disso e de muitas outras provas
infalíveis podemos de fato saber que Jesus Cristo é Deus.
Belém ou
Nazaré?
Marcus Borg, membro do “Seminário de Jesus”, deu uma das
sugestões mais curiosas no programa “Em busca de Jesus”, ao afirmar que Jesus
não nasceu em Belém. O raciocínio utilizado para chegar a essa conclusão seria
interessante, caso não fosse tão insidioso. Em primeiro lugar, afirma-se que
somente dois evangelhos falam a respeito do lugar do nascimento de Cristo, e
eles o descrevem de forma diferente. Lucas diz que Jesus nasceu em uma
manjedoura, enquanto Mateus diz que Jesus nasceu em uma casa. Também se
argumenta que não existe nenhum registro fora dos evangelhos de que César
Augusto tenha ordenado um censo mundial com o objetivo de arrecadar impostos.
Além do mais, os homens eram tributados no próprio lugar em que trabalhavam, mas
as mulheres nem mesmo eram contadas. Portanto, Maria e José não teriam de viajar
para Belém. Finalmente se sugere que as pessoas eram conhecidas pelo lugar em
que haviam nascido. Visto que Jesus é conhecido como Jesus de Nazaré, ele deve
ter nascido lá, e não em Belém.
Muitas das declarações feitas no citado
programa são tão bizarras que é até difícil escolher por onde começar a
refutação. Tome, como exemplo, o argumento presunçoso de Borg de que de Mateus e
Lucas provêem informações diferentes (isto é, contraditórias) a respeito do
nascimento de Cristo em Belém e, portanto, não se pode confiar em nenhum dos
dois. Na verdade, não existe nada em Mateus que contradiga Lucas. Para
apresentar a aparente contradição, Borg diz que, de acordo com Mateus, Jesus
“nasceu em casa”. Mateus, todavia, nada disse a esse respeito, Borg simplesmente
inventou essa afirmação.
Longe de serem contraditórias, as diferenças
entre os relatos do evangelho são claramente complementares. Lucas adiciona
detalhes ao relato de Mateus, como o de que o nascimento de Cristo ocorreu em
uma manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria. As diferenças
entre os evangelhos não apenas demonstram que eles não se baseiam um no outro,
mas também conferem peso à sua autenticidade. Citando as palavras do historiador
dr. Paul Barnett: “As diferenças entre as narrativas não apenas indicam que
Mateus e Lucas estavam isolados um do outro quando escreveram, mas também que as
fontes de que dependeram eram bem separadas. Contudo, dessas correntes de fontes
subjacentes temos um acordo detalhado a respeito de onde Jesus nasceu, quando,
de que pais, e as circunstâncias miraculosas da sua concepção”.12
Além
disso, a declaração de Jennings de que não existe nenhum registro fora dos
evangelhos de que o imperador César Augusto ordenou um censo mundial não é
apenas presunçosa, mas também patentemente falsa. Na verdade, o censo de César
Augusto é famoso – tão famoso, de fato, que os historiadores de crédito nem
mesmo debatem essa questão. O historiador judeu Josefo, por exemplo, se refere a
um censo romano em 6 A.D.13 Considerando o alcance do censo, é lógico assumir
que custou muito a ser completado. É razoável se inferir que começou com César
Augusto por volta de 5 A.C., e que foi completado aproximadamente uma década
depois. Lucas, um historiador meticuloso, nota que o censo foi primeiro
completado quando Quirino era governador da Síria.14 De fato, como o historiador
Paul Maier explicou na sua transmissão de rádio Bible Answer Man: “Os romanos
demoraram 40 anos para completar o censo na Gália. Se considerarmos uma
província na Palestina, a 1.500 milhas de Roma, se tomou uma década foi muito
rápido. E visto que aquele censo finalmente veio até a administração de Quirino,
Lucas pôde corretamente chamá-lo de seu censo”.15
Com as credencias
impecáveis de Lucas como historiador, teria sido muito mais prudente para
Jennings dar-lhe o benefício da dúvida. Basta lembrar a experiência do brilhante
arqueólogo Sir William Ramsay, que se prontificou a demonstrar que Lucas não era
historicamente confiável. Graças às suas viagens arqueológicas meticulosas pelo
Mediterrâneo, ele descobriu que, uma após a outra, as alusões históricas de
Lucas se provavam acuradas. Se, como Ramsay aponta, Lucas não erra nas
referências que faz a respeito de uma multidão de países, cidades e ilhas, não
há razão para duvidar dele a respeito desse censo.16
A afirmação de
Jennings de que os homens eram tributados onde viviam e que as mulheres não eram
contadas é espúria. Maier cita um censo romano do primeiro século no Egito, no
qual se ordenava que os contribuintes que viviam em outros lugares voltassem às
suas terras natais para serem registrados.17 Além disso, um censo romano de
Bacchius, no Egito, datado de 119 A.D. documenta historicamente que mulheres e
crianças eram registradas pelos seus maridos ou pais.18
Finalmente, a
afirmação de Borg de que Jesus era conhecido como Jesus de Nazaré e assim deve
ter nascido lá, ao invés de em Belém, também está absolutamente errada.
Contra-exemplos incontáveis minam essa hipótese. Por exemplo, Irineu de Lião (c.
175-195) provavelmente nasceu em Esmirna, onde possivelmente estudou enquanto
menino, e ensinava em Roma antes de se mudar para Lião;19 Luciano de Antioquia
(c. 240-312) nasceu em Samosata, mas completou sua educação e acabou tornando-se
o líder das escolas teológicas de Antioquia;20 Paulo de Constantinopla (morto em
c. 351) era nativo de Tessalônica e tornou-se bispo de Constantinopla.21 Esses
homens nasceram em um lugar e depois se mudaram para outro, com o qual seus
nomes ficaram associados. Foi justamente o que aconteceu com Jesus, que nasceu
em Belém mas viveu a maior parte da sua vida em Nazaré. A história mostra que no
contexto mais amplo da vida das pessoas vários fatores influenciam o modo como
ficam conhecidas.
E o que é mais importante: visto que a Bíblia diz que
Jesus nasceu em Belém, podemos e devemos confiar que Ele nasceu em Belém!
Enquanto a erudição de Borg está constantemente sob suspeita, a origem da Bíblia
é divina, e não humana. Portanto, devemos acreditar mais na Bíblia do que em
Borg. Várias abordagens demonstram que as Escrituras têm sua natureza inspirada
por Deus, e assim são absolutamente fidedignas. Uma delas, aludida acima, trata
da afirmação historicamente verificável da divindade de Jesus e de sua
ressurreição dentre os mortos.22 Nos evangelhos, Jesus repetidamente validou o
Antigo Testamento, e garantiu a veracidade do Novo Testamento.23 Falando como
Deus, os pronunciamentos de Cristo são verdadeiros, e o mesmo ocorre com tudo o
que a Bíblia ensina, inclusive tudo o que está relacionado com o seu nascimento
miraculoso.
Calúnia anti-semita ou sofisma
antiintelectual?
O sofisma antiintelectual no programa “Em busca de
Jesus” talvez tenha alcançado seu clímax quando o membro do “Seminário de Jesus”
Robert Funk sugeriu que Judas bem poderia ter sido inventado como uma calúnia
anti-semita. De acordo com Funk, a história da traição de Jesus por Judas era
“provavelmente uma ficção, porque Judas parece a muitos de nós como alguém que
representa o judaísmo, ou os judeus, como os responsáveis pela sua morte. Se é
uma ficção, é uma das ficções mais cruéis que fora inventada... tendo em vista a
incontável hostilidade que persistiu entre os cristãos e os judeus no decorrer
dos séculos.” John Dominic Crossan afirma que esses eruditos vêem Judas como o
“judeu arquetípico”, porque “Judas” significa “judeu”. Esses comentários e sua
inclusão no programa representam em si mesmos pouco mais do que preconceito
vingativo e bem podem significar uma nova decadência nos estudos
neotestamentários. Até mesmo Crossan admite a falha: “O problema é, é claro, que
não é assim que pensavam as pessoas do primeiro século, porque [Judas] era um
nome comum. E há muita evidência de que alguém – e estou deliberadamente falando
em termos vagos – próximo a Jesus o traiu”.
Em resposta, em primeiro
lugar deve-se enfatizar que, como Crossan admite, Judas era de fato um nome
muito comum. Há vários homens chamados Judas nos evangelhos, um dos quais era
discípulo de Cristo verdadeiramente devotado (Lc 6.16), e outro escreveu a
epístola de Judas, do Novo Testamento (veja Mt 13.55 e Jd 1). Dificilmente os
leitores do evangelho do primeiro século entenderiam que o nome de Judas
significava o judaísmo.
Além disso, os escritores do Novo Testamento
proclamaram claramente que a salvação por meio do Messias judaico foi dada
primeiro ao povo judeu, e só depois para o resto do mundo (Mt 15.24; Rm 1.16).
Adicionalmente, a visão de Pedro seguida pelo relato de Cornélio recebendo o
Espírito Santo (At 10) e o subseqüente Concílio de Jerusalém (At 15) claramente
demonstram tanto a natureza inclusiva da Igreja quanto a resistência inicial
judaico-cristã à inclusão dos gentios (veja também Gl 2.11-14). Enquanto os
primitivos cristãos certamente não eram anti-semitas, pelo menos alguns
inicialmente manifestaram exatamente o preconceito oposto!
Longe de ser
anti-semita, o Novo Testamento simplesmente registra o desenlace da história da
redenção, conforme predito pelos profetas judeus que anunciaram que um dos
companheiros de Cristo o trairia (Sl 41.9; Jo 13.18). Como deveria ser óbvio
para Jennings e os membros do “Seminário de Jesus”, nada há de sutil a respeito
da narrativa da crucificação. Os escritores judeus do evangelho declaram
explicitamente que foram seus líderes que condenaram a Cristo, acusando-o de
blasfêmia. Não haveria motivo para inventar um Judas fictício para representar o
judeu arquetípico.
Finalmente, como é evidente para qualquer pessoa
desprovida de preconceito, desde um estudioso catedrático até um estudante
primário, o Novo Testamento nada tem de anti-semita. Jesus, os 12 apóstolos e o
apóstolo Paulo eram todos judeus! De fato, os cristãos referem-se com orgulho à
sua herança cultural e espiritual como a tradição judaico-cristã. No livro de
Hebreus, os cristãos são lembrados a respeito dos judeus, de Davi a Daniel, que
são membros da galeria dos heróis da fé. De fato, as crianças cristãs são
criadas tendo os judeus como seus heróis! Desde o colo de suas mães até as
Escolas Dominicais, elas aprendem as histórias do Antigo Testamento dos grandes
judeus, homens e mulheres, de fé, de Moisés a Maria, de Ezequiel a Ester. A
Bíblia se estende longamente para salientar o fato de que quando se trata da fé
em Cristo não há diferença entre judeu e gentio (Gl 3.28), e que o povo judeu em
todas as gerações não é mais responsável pela morte de Cristo do que qualquer
outro. Como disse Ezequiel: “o filho não levará a maldade do pai, nem o pai
levará a maldade do filho” (18.20). A “ficção cruel” de Funk não é Judas, mas a
noção de que o cristianismo é anti-semita. Na verdade, Jennings e outros devem
uma desculpa ao mundo por alimentar um mal-entendido e por má-fé ao defenderem a
sugestão cruel de que a história de Judas foi inventada porque “Judas quer dizer
judeu”.
Enterro ou mentira?
Não há dúvida de que o erro
mais crasso do programa “Em busca de Jesus” é a negação da morte e ressurreição
de Cristo. Em um diálogo com Jennings, Crossan contende que o relato do enterro
de Jesus é baseado em esperança, e não em história: “Será que Jesus foi ao menos
enterrado?... O objetivo da crucificação era criar um ambiente de terror, e a
função era deixar o corpo na cruz para ficar em putrefação, ser devorado por
corvos e cães vira-latas. Não é que apenas fazia você sofrer muito – você não
era enterrado. É justamente isso que fazia dela uma das penas supremas entre os
romanos. Ausência de enterro. Quando eu leio essas estórias, me sinto
terrivelmente solidário com os seguidores de Jesus porque eu ouço esperança
aqui, não história”. É evidente que o próprio Crossan não se põe entre os
“seguidores de Jesus”.
Contrário à alegação de Crossan, o relato do
enterro de Cristo é baseado em história, e não em esperança. O falecido erudito
liberal da Universidade de Cambridge, John A. T. Robinson, admitiu que o enterro
de Cristo “é um dos mais antigos e mais bem atestados fatos a respeito de
Jesus”. 24 Essa declaração não é meramente uma afirmação dogmática. Ao
contrário, é firmemente embasada em argumentação sólida.
Em primeiro
lugar, tanto os eruditos liberais quanto os conservadores do Novo Testamento
concordam que o corpo de Jesus foi enterrado no túmulo particular de José de
Arimatéia. O filósofo e teólogo William Lane Craig sublinha este fato ao notar
que, como membro da corte judaica que condenou Jesus, é improvável que José de
Arimatéia fosse uma ficção cristã. O notável erudito neotestamentário Raymond
Brown explica: “O fato de que José foi o responsável pelo enterro de Jesus é
‘muito provável’, visto que uma criação ficcional cristã de um membro do
sinédrio fazendo algo correto a favor de Jesus é ‘quase inexplicável’, dada a
hostilidade que havia nos primeiros escritos cristãos contra os líderes judaicos
responsáveis pela morte de Jesus. Em particular, Marcos não teria inventado
José, tendo em vista a sua declaração de que todo o sinédrio havia votado a
favor da condenação de Jesus (Mc 14.55, 64; 15.1)”.25
Além disso, não
existe nenhuma outra versão a respeito do assunto. Craig aponta em Jesus sob
Fogo que “se o enterro de Jesus no túmulo de José de Arimatéia é uma lenda,
então é estranho que não haja tradições conflitantes em nenhum lugar, nem mesmo
da parte de polemistas judeus. É difícil explicar que não tenha sobrado nenhum
vestígio da história verdadeira, nem mesmo de alguma falsa versão conflitante, a
menos que o relato do evangelho seja substancialmente o relato
verdadeiro”.26
O relato do enterro de Jesus no túmulo de José de
Arimatéia é confirmado pelo evangelho de Marcos e é, portanto, registrado cedo
demais para estar sujeito à corrupção e à formação de lendas.24 De modo
semelhante, Paulo comprova o enterro de Cristo em uma carta aos cristãos de
Corinto, na qual ele recita um antigo credo cristão, que data poucos anos após a
própria crucificação (1Co 15.3-7).27
Finalmente, conforme Craig enfatiza,
a resposta judaica mais precoce à ressurreição de Jesus Cristo pressupõe um
túmulo conhecido que se tornou vazio. Ao invés de negar que o túmulo estava
vazio, os inimigos de Cristo acusaram seus discípulos de roubar o corpo. A sua
resposta à proclamação: “Ele ressuscitou – realmente ressuscitou” não foi “seu
corpo ainda está na sepultura”, ou “ele foi jogado numa cova rasa e comido por
cães”. Ao invés disso, eles responderam: “Seus discípulos vieram durante a noite
e o roubaram”.28 Nos séculos que se seguiram à ressurreição, o fato de que o
sepulcro de Jesus era conhecido foi aceito tanto pelos amigos quanto pelos
inimigos de Jesus.29
Resumindo: o primitivo cristianismo simplesmente não
teria sobrevivido se alguém pudesse encontrar algum túmulo contendo o corpo de
Jesus. Os inimigos de Cristo poderiam ter acabado facilmente com a charada se
pudessem mostrar o corpo. Talvez John Dominic Crossan saiba que se admitir a
historicidade do enterro de Jesus terá de admitir também a historicidade da sua
ressurreição.
Muito mais poderia ser dito, mas uma coisa já deve estar
absolutamente clara: apesar de Jennings afirmar ser um repórter respeitoso em
busca do que podemos saber a respeito do Jesus da história, na verdade ele
gastou a maior parte de duas horas recorrendo a calúnias para vender sua própria
forma extrema de fundamentalismo. Longe de prover uma exposição dos fatos
embasada na evidência, ele empurrou uma fé cega baseada na emoção. Aceitar
afirmações desse tipo, baseadas em boatos sem provas, seria verdadeiramente
repreensível.
Em resumo
Ignorando o parecer dos
especialistas confiáveis, a reportagem especial da rede de televisão
norte-americana: ABC, apresentou dois extremos do fundamentalismo: de um lado, a
organização liberal conhecida como “Seminário de Jesus”; do outro, a crença
unilateral, cega e subjetiva, que inclui o movimento herético americano
conhecido como Pentecostalismo Unitarista. Em qualquer um desses dois extremos,
o Jesus que emerge é muito diferente do Cristo do Novo Testamento. De acordo com
o “Seminário de Jesus”, Jesus seria o filho ilegítimo de um soldado romano, e o
relato da concepção virginal teria sido inventado para encobrir isso. Ele não
teria nascido em Belém; a traição de Jesus teria sido inventada por cristãos
como uma calúnia anti-semita. Ele não teria sido enterrado, mas deixado na cruz
e devorado por corvos e cães vira-latas, e sua ressurreição uma história
emprestada das religiões de mistério, ou seja, seitas pagãs
orientais.
Essas conclusões não são mais do que afirmações dogmáticas
desprovidas de argumentos defensáveis, o que também sugere uma fé cega
influenciada pelas emoções. Em contraste com isso, o cristianismo está arraigado
em eventos históricos averiguáveis. Efetuando-se uma análise histórica honesta,
podemos saber, racionalmente e além de qualquer dúvida razoável, que Jesus foi
enterrado no túmulo de José de Arimatéia, ressuscitou dentre os mortos e
apareceu fisicamente para autenticar sua afirmação de que era Deus em forma
humana. Ao descartar a priori o Cristo da fé bíblica, o apresentador do
programa, Peter Jennings, e o “Seminário de Jesus” não puderam encontrar o
verdadeiro Jesus histórico.
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