“Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e
alegremo-nos nele” (Sl 118.24)
“Domingo, no Novo Testamento, é chamado de ‘O dia do
Senhor’.
Domingo é um
vocábulo exclusivo do cristianismo. Essa palavra, bem como as suas análogas, não
existia em nenhuma língua do mundo até o final do século 1o, quando o apóstolo
João criou a expressão grega: Kuriakh ‛mera (kyriake hemera), vertida para o
latim como: dominica die.
Antigos documentos da Igreja primitiva,
transcritos para o russo, relatam que João, encarcerado na ilha de Patmos,
chorava muito ao chegar o primeiro dia da semana, ao lembra-se das uniões para a
Ceia do Senhor, celebrada sempre nesse dia: “No primeiro dia da semana,
ajuntando-se os discípulos para partir o pão...” (At 20.7). E foi justamente em
um “primeiro dia da semana” que Jesus, ressuscitado, lhe apareceu e lhe revelou
os maravilhosos eventos do Apocalipse (Ap 1.10).
Certamente que todo o
livro não foi elaborado naquele mesmo dia. Mas o fato indiscutível é que Jesus
apareceu a João exatamente no “primeiro dia da semana”. Isso explica porque a
Ucrânia e a Rússia trocaram os nomes do primeiro dia da semana, que entre os
pagãos era chamado “dia do sol”, por uma expressão tão ou mais significativa do
que aquela adotada nos países de línguas neolatinas.
Lemos na Bíblia
ucraniana João afirmando que foi arrebatado no “dia da ressurreição” (Dien
voscrecii). De igual modo, na Bíblia russa também lemos: “Eu fui arrebatado em
espírito, no dia da ressurreição”. Aliás, na língua russa, todos os dias da
semana ficaram subordinados ao dia da ressurreição! Por exemplo: segunda-feira,
em russo, é pondielnik (“o dia após a ressurreição”); terça-feira, voftornik (“o
segundo dia após a ressurreição”); quarta-feira, sreda (“terceiro dia após a
ressurreição”), e assim por diante.
Vale realçar que o apóstolo João, ao
frisar o dia da semana em que Jesus lhe apareceu, criou uma nova expressão na
língua grega: Kuriakh hmera (kyriake hemera). Expressão esta que deu origem à
palavra “domingo”, conforme explanaremos a seguir. Mas antes de continuarmos,
para melhor compreensão dos nossos argumentos, recorreremos à etimologia, que
nos revelará a origem das palavras, o seu desenvolvimento histórico e as
possíveis mudanças de seu significado.
Vejamos alguns exemplos de como as
palavras evoluem:
•A palavra “efeméride” provém de dois termos gregos:
epi (“sobre”) e ‛he hemera, que significa “dia”, de onde veio também o adjetivo
efêmero, ou seja, “o que é breve, transitório, passageiro”.
•A palavra
“castigar” provém do latim: castus (“irrepreensível”, “puro”, “fiel”) + agere
(“fazer”). Temos um emprego bíblico neste sentido quando o escritor aos hebreus
declara que Deus “castiga a quem ama” com a finalidade de nos tornar puros e
fiéis a Ele (Hb 12.6).
•As palavras “mouco” (ou surdo) e “domingo”
possuem também sua origem num texto de João. Vejamos: “Então Simão Pedro, que
tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a
orelha direita. E o nome do servo era Malco” (Jo 18.10). Malcus, do latim, deu
origem à palavra “mouco”, em português, significando aquele que não ouve, ou que
ouve pouco ou mal; surdo.
Analisemos, agora, Apocalipse 1.10 à luz do
original grego, da etimologia, da hermenêutica bíblica, da história e dos
escritos patrísticos.
Eis o que os mais abalizados biblicistas afirmam
sobre a expressão joanina: kyriake hemera:
“Temos aqui a palavra
kyriakos, em um sentido adjetivado, isto é, “pertencente ao Senhor”.
Originalmente, esta palavra era usada com o sentido imperial, como algo que
pertencia ao César romano. ‘Os crentes primitivos [...] aplicaram-na ao domingo,
o primeiro dia da semana’. Esse é o uso que se encontra em Didaché 14 e Inácio,
Magn. 9, que foram escritos não muito depois do Apocalipse”.
“‘O dia do
Senhor’, em Apocalipse 1.10, é tido pela maioria dos autores como o domingo”.
“O primeiro dia da semana é, sem dúvida. ‘o dia do Senhor’, referido em
Apocalipse 1.10”.
“A frase: ‘O dia do Senhor’, Kuriakh ‛mera (kyriake
hemera), ocorre uma só vez, e isto se dá no último livro. Apocalipse 1.10 [...]
expressava a convicção de que o domingo era o dia da ressurreição, quando Cristo
Jesus conquistou a morte e se tornou Senhor de todos” (Ef 1.20-22; grifo do
articulista).
Nem mesmo no texto grego da Septuaginta encontramos a
expressão Kuriakh‛mera, criada pelo apóstolo João para aludir ao dia da
ressurreição! A expressão hebraica “dia do Senhor” sempre foi vertida para o
grego como ‛ (hemera tou kyriou). Mas o que João escreveu foi: Kuriakh ‛mera.
Por que João teria usado uma expressão jamais encontrada em qualquer outro
escrito, sagrado ou profano? Cremos que pelas seguintes razões:
1) Para
indicar algo também inédito na história da humanidade: a ressurreição de
Cristo.
2) Para deixar bem claro que se referia ao dia da ressurreição, o
domingo, e não aos eventos escatológicos da segunda vinda de Cristo, a parusia,
que também é chamada “dia do Senhor”, como nestes versículos:
a) “O sol
se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso
dia do Senhor” (At 2.20).
b) “... Seja entregue para destruição da carne,
para que o espírito seja salvo no dia do Senhor” (1Co 5.5).
c) “Porque
vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite”
(1Ts 5.2).
d) “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (2Pe
3.10).
Há uma significativa diferença entre a expressão “dia do Senhor”,
alusiva à segunda vinda de Cristo, e a expressão que encontramos escrita em
Apocalipse 1.10, “dia do Senhor”, referindo-se ao dia da
ressurreição.
Kyriakos é uma forma adjetivada da palavra KurioV (Kýrios –
Senhor) e significa literal e exatamente: “que diz respeito ao Senhor”;
“concernente ao Senhor”; “pertencente ao Senhor”; “senhorial”, ou “dominical”, e
não “do Senhor”, como lemos em algumas das nossas traduções.
A tradução
literal de Apocalipse 1.10 seria: “Eu fui arrebatado pelo espírito no dia
senhorial”. Mas este adjetivo, “senhorial”, derivado do termo “senhor”,
raramente é usado. O seu sinônimo é “dominical”, porque o português é uma língua
neolatina. “Senhor”, em latim, é Dominus. Assim, quando dizemos Dom Pedro II ou
Dom Evaristo Arns, estamos abreviando a palavra Dominus, para dizer: Senhor
Pedro II, Senhor Evaristo Arns. O mesmo processo etimológico acontece com o
adjetivo “popular”. Quando algo pertence ao povo, não dizemos “povoal”, mas
“popular”, porque, em latim, populus, significa “povo”.
Acertadamente,
Jerônimo verteu Kuriakh ‛mera (kyriake hemera) para a Vulgata Latina como
Dominica die (“dia dominical”, “domingo”) e não como dia domini (“dia do
Senhor”). Veja:
“Fui in spiritu in dominica die et audivi post me vocem
magnam tamquam tubae”(Ap 2.10).
Daí, a clássica versão de Antônio
Pereira de Figueiredo traduzir: “Eu fui arrebatado em espírito hum dia de
domingo, e ouvi por detrás de mim huma grande voz, como de trombeta” (1819).
Resgatando verdades históricas
Documentos escritos nos
três primeiros séculos, muito antes de Constantino existir (280-337), adotaram e
conservam, todos eles, a mesma expressão concebida pelo apóstolo João para
referir-se ao glorioso dia da ressurreição de Jesus Cristo.
Século 1º: O
ensino dos apóstolos
Possivelmente, contemporâneo do Apocalipse: “E no
dia do Senhor Kyriake hemera, congregai-vos para partir o pão e dai graças”.
Século 2º : Escritos de Melito de Sardes
Nestes escritos, há um
tratado sobre a adoração no domingo, intitulado: peri kyriakes (acerca do dia
dominical), “dia do Senhor”, isto é, “domingo”.
Ano 115: Epístola de
Inácio aos magnesianos
“Porque se no dia de hoje vivermos segundo a
maneira do judaísmo, confessamos que não temos recebido a graça [...] Assim
pois, os que haviam andado em práticas antigas alcançaram uma nova esperança, já
sem observar os sábados, porém modelando suas vidas segundo o ‘dia do Senhor’
(Kyriaken zontes)”.
Ano 130: O “evangelho de Pedro”
É um
documento histórico comprovadamente escrito no princípio do século 2o, e também
se refere ao dia da ressurreição usando o mesmo adjetivo kyriakes, que, na
edição de Jorge Luís Borges, é traduzido corretamente por “domingo”.
Ano
132, ou antes: Epístola de Barnabé
“Portanto, também nós guardamos o
oitavo dia ( Kyriake hemera, ‘domingo’) para nos alegrarmos em que também Jesus
se levantou dentre os mortos e, havendo sido manifestado, ascendeu aos céus”.
150—168: Justino Mártir, Eusébio, Clemente de
Alexandria
Escritores dos séculos 2º e 3º, todos eles também adotaram o
Kyriake hemera criado por João para o “dia da ressurreição”, vertido para o
latim como Domínica die (“dia dominical”) e passado para o português como
“domingo”!
A singularidade do nome domingo
“E Jesus, tendo
ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana...” (Mc 16.9).
Alguns
alegam que a palavra “domingo” não consta na Bíblia. É verdade. Não encontramos
nos textos originais a palavra portuguesa “domingo”, como também não encontramos
as palavras: Deus, casa, livro, amor ou sábado, mas, sim, as suas
correspondentes nas línguas hebraica, aramaica ou grega.
Domingo é a
tradução literal da expressão criada pelo apóstolo João: Kuriakh ‛mera (kyriake
hemera), vertida para o latim como Domínica die e corretamente traduzida em
todas as versões da Vulgata para as línguas neolatinas como dominu lui, domingo,
mingo, domenica, dimanche, e outros nomes semelhantes no galego, no provençal,
no franco-provençal, no romeno, no reto-romano, no sardo e no dalmático, faladas
por mais de 400.000 000 de pessoas!
As seguintes traduções: de Antônio
Pereira de Figueiredo, do Centro Bíblico Católico, dos Monges de Maredsous, de
João José Pedreira de Castro, do dr. José Basílio Pereira, do Mons. Vicente
Zioni e Matos Soares, bem como qualquer outra versão do Novo Testamento para o
português ou para o espanhol, feita da Vulgata Latina, trazem em Apocalipse 1.10
a palavra “domingo”.
Domingo não é um nome importado do paganismo, como
saturday (“dia de Saturno”), nem do judaísmo, como shabath (“descanso”).
Domingo não é dia comemorativo da criação do mundo nem da libertação do
povo de Israel, tampouco dia de descanso, pasmaceira, televisão, futebol,
pescarias, clubes ou jogatina.
Domingo é dia de oração, de adoração, dia
de cultuarmos a Deus, dia de atividade espiritual, como evangelismo, visita aos
necessitados, aos encarcerados ou enfermos!
Domingo é o nome de um dia
exclusivo do cristianismo, criado por João para caracterizar e distinguir o dia
da vitória de Jesus sobre a morte, consumando a libertação de toda a
humanidade.
Domingo é o dia aclamado por Davi, em sua jubilosa profecia
sobre o dia da ressurreição: “Esta é a porta do SENHOR, pela qual os justos
entrarão. Louvar-te-ei, pois me escutaste, e te fizeste a minha salvação. A
pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina. Da parte do
SENHOR se fez isto; maravilhoso é aos nossos olhos. Este é o dia que fez o
SENHOR; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele” (Sl 118.20-24).
Observemos a
exatidão do cumprimento de cada sentença, de cada afirmação, de cada palavra
desta impressionante profecia escrita por volta de mil anos antes de Jesus
nascer.
Esta é a porta
“Eu sou a porta; se alguém entrar
por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (Jo
10.9).
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por
nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).
“Porque por ele ambos temos acesso
ao Pai em um mesmo Espírito” (Ef 2.18).
A pedra
“Ele é a
pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de
esquina” (At 4.11).
Os edificadores rejeitaram
“Diz-lhes
Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram,
essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso
aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e
será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mt 21.42,43).
Da parte
do Senhor se fez isto
“O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao
qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro” (At 5.30).
Maravilhoso é
aos nossos olhos
“Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da
morte, pois não era possível que fosse retido por ela” (At 2.24).
Este
é o dia que fez o SENHOR
“E, no fim do sábado, quando já despontava o
primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro” (Mt
28.1).
“E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo,
ao nascer do sol” (Mt 16.2).
“E no primeiro dia da semana, muito de
madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado,
e algumas outras com elas” (Lc 24.1).
“E no primeiro dia da semana, Maria
Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada
do sepulcro” (Jo 20.1).
“Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro
da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se
tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja
convosco” (Jo 20.19).
“E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os
discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava
com eles; e prolongou a prática até a meia-noite” (At 20.7).
“No primeiro
dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua
prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar (1Co
16.2).
Regozijemo-nos, e alegremo-nos nele
“Assim também vós
agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração
se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará” (Jo 16.22).
“Regozijai-vos sempre” (1Ts 5.16).
“Regozijai-vos sempre no
Senhor; outra vez digo, regozijai-vos” (Fp 4.4).
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