A Igreja Católica Romana quase mandou o renomado cientista Italiano Galileu
Galilei (Século XVI) para a fogueira, arvorando que o heliocentrismo1 era uma
heresia contra os desígnios divinos e que o geocentrismo2 não deveria ser
questionado. Bem da verdade, não foi esse o grande motivo de quererem mandar
Galileu para a fogueira da inquisição, mas suas conclusões científicas de que a
teoria da transubstanciação era impossível e improvável. Esse mito da
transubstanciação, criado na Idade Média, ainda vive hoje como um dos pilares
doutrinários da fé católica (Ler matéria de capa). A Idade Média ou Idade das
Trevas foi uma ótima oficina para que mentes alucinadas criassem e
desenvolvessem doutrinas extremamente exóticas e totalmente anticristãs, entre
elas, iremos questionar nesta matéria os estigmas de Cristo.
O que é a
doutrina dos estigmas de Cristo?
Estigmas: do grego stigmata,
significa “picada dolorosa”. Trata-se de feridas que, supostamente, aparecem em
várias partes determinantes do corpo do devoto católico: na cabeça, devido à
coroa de espinhos; nas costas, devido às chibatadas; nas mãos e nos pés, devido
aos cravos; e na parte lateral do corpo, devido ao corte da lança do soldado
romano.
Portanto, ser estigmatizado é receber no próprio corpo as chagas
ou os ferimentos de Cristo, e isso literalmente. Além disso, parece que o
estigmatizado passa a sofrer terríveis perseguições espirituais, tornando-se uma
pessoa afligida.
Na maioria das vezes, os estigmatizados estão em
profundo transe quando “agraciados” com esse fenômeno. Alguns param de comer e
outros ainda passam a ter freqüentes alucinações.
A Igreja Católica
Romana entende que a paixão de Cristo está sempre viva entre os cristãos, sendo
mesmo causa de conversões, e que, através dos séculos, Cristo quis reproduzir,
em pessoas privilegiadas, as marcas ou estigmas de sua paixão.
O
primeiro estigmatizado
Conforme os parâmetros católicos, o primeiro
estigmatizado da história foi São Francisco de Assis, no ano de 1224. A
“estigmatização” de São Francisco fez aparecer-lhe nas mãos, pés e costas chagas
semelhantes às de Cristo na cruz.
Essa íntima comunhão de Deus para com o
estigmatizado, segundo a Igreja Católica, levaria o indivíduo a um processo de
santificação e de certa contribuição para a salvação do mundo. Devido a isso,
São Francisco foi canonizado em 1232 e é festejado no dia quatro de
outubro.
No livro Milagres, de Scott Rogo3, são relacionados
aproximadamente 312 estigmatizados até o final do século XIX, isso levando em
consideração os estigmatizados sem as chagas, ou seja, aqueles que sentiram as
dores, mas não manifestaram as feridas. O livro informa também que, até agora,
somente uns sessenta estigmatizados foram beatificados e canonizados. Depois de
São Francisco, os mais famosos foram a alemã Therese Neumann (1898-1962) e o
italiano Francesco Forgione (1887-1968), mais conhecido como Frei de Pietralcina
ou Padre Pio. Outras figuras reconhecidas como estigmatizadas: Catarina de Sena
(1347-1380), Verônica Giuliana (1660-1727), Gema Galgani (1878-1903), entre
outras.
Segundo o Dicionário do cético, de Robert Todd Carroll4,
traduzido por Antônio Inglês e Ronaldo Cordeiro, um dos estigmatizados mais
recentes é o frade James Bruce “que não só afirmou ter as feridas de Cristo,
como também que estátuas religiosas choravam em sua presença”. De acordo com o
dicionário, este fato ocorreu em 1992, em um subúrbio de Washington, D.C., “onde
coisas estranhas são comuns. Nem é preciso dizer que ele (James Bruce) lotou os
bancos da igreja. Atualmente, administra uma paróquia na região rural da
Virgínia, onde os milagres cessaram”.
O porquê dos
estigmas
Segundo o padre Tito Paolo Zecca, um dos maiores
especialistas do assunto, professor de teologia pastoral e espiritualidade na
Universidade Pontifícia do Latrão, e o Ateneu Pontifício Antoniano de Roma, os
estigmas são “um sinal do que Cristo sofreu durante a Paixão [...] Este fenômeno
mostra a eficácia da salvação de Cristo na cruz, e permanece de modo especial no
sinal dos estigmas, tornando-se um fato distintivo da eficácia redentora e
salvadora da fé”. Padre Zecca ainda conclui que “é uma experiência de alegria e
dor [...] estas chagas podem ser purulentas e nunca se curar, mas podem ajudar a
curar os outros”. Apesar do sofrimento que as chagas podem vir a causar nos
santos “privilegiados”, o padre acredita piamente que tais ocorrências são
sinais de graças benditas: “os recipientes dos estigmas consideram isso uma
imensa graça”.
A Idade Média e os estigmas
Durante quase
toda a Idade Média a Europa esteve mergulhada em um profundo misticismo que
geraram muitas coisas vãs. Tais coisas, para as pessoas, tinham grande valor
espiritual. Havia, por exemplo, uma pena da asa do anjo Gabriel, um bocado da
arca de Noé, a camisa da bendita virgem, os dentes de Santa Apolônia (segundo as
pessoas, isso proporcionava cura infalível para as dores de dentes) e muitas
outras relíquias sagradas e milagrosas! Além disso, era generalizada a crença
absurda de que o arcanjo Miguel celebrava a missa na corte do céu todas as
segundas-feiras. A este período pertence a instituição do rosário e da coroa da
virgem Maria, da invenção da doutrina da transubstanciação e de muitas outras
mitologias católicas. É nesse contexto sociológico que surge a doutrina dos
estigmas.
É interessante notar que não se conhece nenhum caso de estigmas
que tenha acontecido antes do século XIII, quando “Jesus crucificado” se tornou
um símbolo do cristianismo no Ocidente. Para alguns, isso indica que os estigmas
provavelmente foram feitos pelos próprios estigmatizados, e ainda há aqueles que
acreditam que tais fenômenos vieram a ocorrer de maneira psicossomática, devido
à veneração extremada de católicos devotos à cruz.
Opinião médica
sobre os estigmas
Atualmente, fica difícil coletar opiniões médicas
sobre o polêmico assunto, pois há muitos anos não se tem notícia de qualquer
pessoa que tenha sobre si essas marcas. Também não se tem notícia de qualquer
estigmatizado no Brasil. Não haveria, pois, como submetê-las a exame científico
conclusivo, usando-se de técnicas modernas e aplicando o conhecimento atual,
seja médico ou psicológico.
Um especialista em estigmas, Herbert
Thurston, argumenta cinco pontos contra a natureza desses fenômenos:
1.
Os estigmas eram desconhecidos do cristianismo até o século XIII, quando São
Francisco de Assis os exibiu pela primeira vez. Todos os casos ocorridos a
partir dessa data devem, por isso mesmo, ser imitados em sua natureza, eis a
razão por não serem autênticos.
2. As feridas dos estigmas não aparecem
em local, tamanho e forma consistentes. Tal fato sugeriria que não passam de
efeito auto-sugestivo.
3. Os estigmas surgem em conexão com a
histeria.5
4. Em geral, as feridas só surgem depois que o indivíduo teve
várias doenças purgativas que parecem ser distúrbios do sistema nervoso
central.
5. Embora os supostamente estigmatizados sejam pessoas
visionárias6 , uma comparação de suas visões mostra pouca consistência. A maior
parte delas não deixa de ser “reencenações” de histórias tradicionais da paixão,
não apresentando nenhuma evidência de sua natureza divina.7
O Dicionário
do cético ainda afirma: “os ferimentos auto-infligidos são comuns entre pessoas
com certos tipos de distúrbios mentais, mas afirmar que as feridas são
milagrosas é raro, e se deve mais provavelmente à religiosidade excessiva do que
a um cérebro doente, embora ambos possam estar atuando em alguns casos”. A
explicação preferida é de que estas feridas tenham sido auto-infligidas, uma vez
que nenhum estigmático manifesta seus ferimentos do princípio ao fim na presença
dos outros, só começando a sangrar quando não estão sendo
observados.
A questão teológica sobre os estigmas de
Cristo
Não nos deteremos no mérito se tais manifestações são
possíveis ou não, mas se são teologicamente corretas. Mas, pelo que já lemos
acima e temos constatado em nossa pesquisa sobre o assunto, essa doutrina não
aparenta ser nem um pouco bíblica.
O apóstolo Paulo relata: “... porque
eu trago no meu corpo as marcas [do grego stigmata] de Jesus” (Gl 6.17). Então,
segundo o texto bíblico, Paulo traz em seu corpo as marcas ou os estigmas de
Cristo.
No contexto geral da epístola de Gálatas, Paulo está refutando
os defensores da circuncisão. Esses pseudo-apóstolos arvoravam que todos os
cristãos deveriam ter o estigma ou a marca da circuncisão judaica. Paulo usa sua
autoridade eclesiástica para declarar que tal doutrina não era vinda da parte de
Deus e devia ser considerada como anátema (Gl 1.9). Ele queria que os crentes de
Gálatas tomassem conhecimento da eficácia de seu apostolado, já que esse
apostolado estava alicerçado no evangelho da graça. Para o apóstolo, o evangelho
vivido não é notado com estigmas (leia-se marcas) externos, mas no coração:
“Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a
circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo
[...] As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção
voluntária, humildade fingida, e em disciplina do corpo, mas não é de valor
algum senão para a satisfação da carne” (Gl 6.12; Cl 2.23).
A palavra
grega stigmata traduz perfeitamente o que ocorria com os escravos marcados ou
estigmatizados a ferro com os nomes de seus senhores. Possivelmente, era o que
Paulo queria transmitir, isto é, que ele já estava marcado pelo sofrimento da
obra de Cristo, que pertencia ao seu Salvador e não precisava ser circuncidado
para tornar-se fiel a Deus. Além disso, estava assinalado pelo selo do Espírito
Santo (Ef 1.13) e comprado pelo preço do sangue de Jesus (1Co 6.20). É bom
notarmos também que a Bíblia não fala que Paulo tinha furos nas mãos ou nos pés,
nem que seus estigmas eram literalmente idênticos aos de Jesus na cruz, tudo é
dito de maneira ilustrativa e não literal.
O estigma do cristão não é
feito do que é externo, mas, sim, por meio de uma vida reta e santa diante de
Deus: “Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso
corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; e assim
nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a
vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal [...] Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida
que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se
entregou a si mesmo por mim” (2Co 4.10,11; Gl 2.20).
“Manifestações
diabólicas e satânicas”
O sofrimento de Jesus na cruz foi único e
singular. Somente as chagas de Cristo têm o poder de abrir as portas da salvação
para o homem: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo
sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto
é, da sua carne” (Hb 10.19,20). O prazer do Senhor é que sejamos felizes e
livres de toda a dor: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas
enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito,
ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas
transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz
a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is
53.4,5).
Essa doutrina católica parece mais um malfazejo, pois os
estigmatizados sofrem terríveis flagelos e padecem de tormentos espirituais,
contrariamente à vontade de Deus revelada em sua Palavra. A própria Igreja
Católica, em alguns casos de estigmas, declarou que tais manifestações eram
diabólicas e satânicas!
Podemos afirmar categoricamente que não há
precedentes bíblicos para corroborar com a doutrina da “estigmatização”. Nunca
houve um caso na época apostólica ou mesmo depois, pois, como vimos, tais
ocorrências só começaram a se manifestar em uma época em que o misticismo
imperava na mente das pessoas.
Verdadeiramente, não é da vontade de Deus
que vivamos essa terrível experiência, esse cálice só o Senhor poderia beber e
suportar (Mt 26.42)!
“Stigmata, o filme” -
sinopse
“Stigmata” conta a história em que Frankie Paige (Patrícia
Arquette), uma mulher sem nenhum tipo de crença religiosa, começa a sofrer os
“Estigmas, as cinco chagas que Cristo sofreu antes de morrer. Baseado nos
manuscritos do evangelho apócrifo de Tome, encontrados em 1945. O caso chega aos
conhecimentos do Padre Kierman (Gabriel Byrne), um investigador do Vaticano,
responsável por investigar casos como a veracidade e de supostos
santos.
O filme começa numa fictícia cidade brasileira chamada “Belo
Quinto” que, supostamente, ficaria no Sudoeste do Brasil, onde todos os
habitantes se parecem com índios peruanos ou andinos, em geral, e onde todos
falam uma mistura do português de Portugal com uma língua nativa qualquer, que
torna tal idioma completamente indecifrável.
Como muitas outras produções
de Hollyood, o filme é chocante pelas cenas de extrema violência, blasfêmias a
Deus, exorcismos e provocações a fé cristã. No entanto, é um material de
pesquisa interessante, por levantar questões como a existência de manuscritos, a
formação do cânon bíblico, o comportamento da Igreja Católica sobre temas de fé
e misticismo.
Diferente de um filme que vale tudo, na vida real nenhum
estigmatizado apresentou as feridas do inicio ao fim na presença de terceiros,
apenas sangram quando não são observados.
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