“A lei e os profetas duraram até João; desde então
é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele” (Lc
16.16)
Hoje, a religião islâmica é a segunda maior em número de
fiéis, estando à sua frente apenas o cristianismo. O Islã possui seguidores em
todos os continentes do mundo. Trata-se de uma religião monoteísta que se baseia
nos ensinamentos de Maomé, seu profeta maior. Estes ensinamentos se acham
contidos no livro sagrado islâmico, o Corão. A palavra islã significa,
originariamente, “submissão”, retratando a aceitação à lei de Allah (“deus”, em
árabe) e sua vontade. Seus adeptos são chamados de islâmicos ou muçulmanos,
termo que deriva da raiz muslim, que em árabe significa “aquele que se subordina
a Deus”.
O "último profeta"
Maomé nasceu aproximadamente em
572 d.C., em Meca. Seu pai, Abdallah, morreu durante a gravidez de sua mãe. E
sua mãe, Amina, faleceu quando ele era apenas um menino de seis anos de idade.
Ou seja, ele ficou órfão muito cedo. A partir de então, passou a estar sob os
cuidados de um tio e de um avô.
Ao atingir a maioridade, Maomé tornou-se
um mercador. Seu constante contato com os mercadores tornou-o muito culto quanto
às tradições religiosas. Como comerciante e condutor de caravanas, também teve
contato com o judaísmo e o cristianismo.
Nesse período, as religiões da
península arábica eram politeístas e, por isso, a proposta de Maomé acerca da
adoração de um único “deus” encontrou forte rejeição entre o povo local que
forçou o profeta e seus poucos seguidores a migrarem para Yatub, posteriormente
rebatizada como Medina, quatrocentos quilômetros distante de Meca .
Essa
migração ocorreu no ano 622, data que marca o início do calendário islâmico. Em
Medina, Maomé encontrou quatro tribos pagãs, três judaicas e duas cristãs, mas
conseguiu dirimir a questão da discórdia entre essas facções urbanas, o que lhe
permitiu a livre pregação.
Foi então que, aproveitando a oportunidade,
conseguiu gerar a primeira grande comunidade, reunindo ao seu lado muitos
seguidores, os quais fizeram-no com que se sentisse fortalecido o suficiente
para retornar a Meca e impor-se sobre aqueles que tinham causado o seu
desterro.
Em 630, Maomé entra triunfante em sua cidade natal, onde
iniciou a anunciação do absoluto monoteísmo, o que, para o Islã, fora revelado
aos judeus e confirmado por Jesus, na qualidade de um dos 124 mil profetas
enviados por Allah.
Casou-se antes dos 30 anos de idade com Cadidja, uma
viúva rica para quem Maomé trabalhava como mercador, ofício que deixou após
contrair matrimônio para dedicar seu tempo à solidão e à meditação.
Foi
numa dessas oportunidades de retiro solitário que Maomé, segundo a tradição
islâmica, recebeu a ilustre visita do arcanjo Gabriel, o qual abraçou-o com
força, constrangendo-o com a ordem: “Recita em nome de Allah, o único
deus!”.
Segundo a crença islâmica, Maomé, no início, permaneceu hesitante
quanto a tudo o que ocorria com ele, mas, com o passar do tempo, resolveu dar
crédito às revelações, passando a crer, juntamente com Cadidja, que era
realmente o escolhido de Allah.
Após ter recebido muitas dessas
revelações, Maomé passou a meditá-las, iniciando, a partir daí, uma oposição a
todas as religiões já existentes: o judaísmo, o cristianismo e uma forma de
politeísmo que imperava também na tribo da qual ele era oriundo, onde se
veneravam vários deuses, entre eles Allah, o deus da revelação
islâmica.
Maomé morreu em Medina (632) pouco tempo depois de seu retorno
a Meca, enquanto que a comunidade dos fiéis de Allah crescia vertiginosamente em
toda a Arábia. Nasce, a partir daí uma nova religião, o Islã.
O cânon
islâmico
O Alcorão é a obra sagrada islâmica. O nome deriva do árabe
qur‘am (leitura/recitação), pelo fato de Maomé ter sido constrangido pelo
arcanjo Gabriel para que recitasse os textos sagrados que lhe foram revelados.
Por este mesmo motivo, os muçulmanos têm apenas por autêntico o Corão, escrito
na língua de origem, o árabe.
O Corão é considerado a revelação divina
expressa na Bíblia. Segundo os historiadores, os versículos do Corão eram
pregados por Maomé enquanto seus seguidores tomavam nota, o que culminou com
algumas variantes, até que o terceiro califa, Otiman ibn Affan, ordenou que
fosse considerada oficial apenas a redação de Zayd (um dos companheiros do
profeta), determinando a destruição de todas as demais traduções que trouxeram
discrepância ao texto.
O Corão é dividido por capítulos chamados suras ou
suratas. No total, são 114 suras e 6326 versículos.
Pontos
doutrinários básicos do islamismo
A teologia islâmica é tão vasta
quanto a teologia cristã. Assim como os cristãos possuem um credo resumido, os
muçulmanos também o possuem:
A crença em Deus, chamado Alá. Deus é UNO
(wahed), não tem companheiros nem ninguém que lhe seja igual. Deus é totalmente
diferente do homem. A essência da natureza de Deus no Islã é poder.
A
crença nos profetas. Maomé ensina que existe um profeta para cada época,
começando por Adão e terminando em Maomé. A tradição islâmica diz que existiram
120 mil profetas.
A crença nos livros sagrados. Segundo a crença
islâmica, o Alcorão é o último livro sagrado dado ao homem. O Alcorão é eterno,
escrito em placas de ouro ao lado do trono de Alá e recitado a Maomé pelo anjo
Gabriel, de acordo com a necessidade.
A crença nos anjos. Deus criou
todos os anjos. A maioria dos anjos é má e eles são chamados ginn (de onde
cremos originar-se a palavra gênio). Cada ser humano tem um anjo-ombro: um
escrevendo suas boas obras e o outro, as más.
A crença no dia do juízo
final. A salvação é pelas obras. As obras de todas as pessoas serão pesadas numa
balança. Se as boas superarem as más, tal pessoa irá para o paraíso. Os mártires
irão todos para o paraíso.
O conceito de paraíso é bem sensual. Há muitas
lindas virgens de olhos negros para cada homem. O inferno é para os
não-muçulmanos. É um lugar de fogo e tormento indescritível. O pecado
imperdoável é associar algo ou alguém a Deus.
A crença nos decretos de
Deus. Deus é absolutamente soberano e não tem nenhuma obrigação moral, pois isto
limitaria seu poder e soberania. Tudo o que acontece é porque Deus assim
quis.
Os seis pilares dos islamismo
Tais pilares da fé
islâmica compõem a chamada Shari´a, sendo que, a partir dela, todos os
mulçumanos sadios, do sexo masculino, estariam incumbidos obrigatoriamente de
administrar suas vidas. Esse procedimento se inicia na vida do adepto na época
da puberdade, ou seja, por volta dos quinze anos de idade. São
elas:
Shahada. É a profissão de fé islâmica, pronunciada da seguinte
forma: “Não há outro deus além de Allah e Muhammad é o seu profeta (ou
mensageiro)”. No entendimento islâmico, basta pronunciar esta fórmula em local
público para que o indivíduo consagre sua adesão ao Islã.
Salat. São as
orações praticadas cinco vezes ao dia, as quais formam um elo direto entre o
adorador e Allah. Tais orações contêm versículos do Corão e são recitadas sempre
em árabe, a língua da revelação. São praticadas ao amanhecer, ao meio-dia, no
meio da tarde, ao anoitecer e à noite, sendo sua realização preferivelmente na
mesquita e em grupo.
Zakat. Significa tanto “purificação” como
“crescimento”. A responsabilidade do cumprimento desta determinação básica cabe
apenas ao fiel, que faz o cálculo do rendimento de seu capital anual e daí
extrai 2,5%, que serão empregados no patrocínio de obras sociais e auxílio aos
mulçumanos menos favorecidos.
Sawn. Todos os anos, no mês do Ramadan (o
nono no calendário islâmico), os mulçumanos jejuam por trinta dias, desde o
amanhecer até o pôr-do-sol, período em que se abstêm de comida, bebida e
relações sexuais.
Hajj. Trata-se da peregrinação à cidade sagrada de
Meca. Tal peregrinação deve ser feita pelo menos uma vez na vida e ser
empreendida por todos os fiéis que possuem condições físicas e financeiras para
fazê-la. Nesta oportunidade, todos trajam túnicas brancas, leves e simples, com
o sentido de que todos pareçam também iguais diante de Allah, sem distinção de
poder econômico ou etnia.
Este ritual inclui ainda o circungiro da Caaba
por sete vezes, além de percorrer pelo mesmo número de vezes a distância entre
os montes de al-Saffa e al-Marwa, que, segundo ensina o Islã, fora o caminho
percorrido por Hagar quando procurava água para si e para Ismail (Ismael).
Jihad. Literalmente, o termo não significa “guerra santa”, como muitos
entendem, antes, é traduzido por “esforço”, relacionado à defesa própria e da
religião ou daqueles que foram expulsos de seus lares. A cultura muçulmana
explica que se pessoas de bem não se preocuparem em estar preparadas para
arriscarem suas próprias vidas em defesa da causa do Islã, logo, a injustiça
triunfará no mundo. Outro significado para a expressão Jihad é a luta interior
de cada um para se desvencilhar de seus desejos egoístas, o que proporcionaria
paz interior.
As divisões do islamismo
Logo após a morte
de Maomé, houve um cisma no cerne do islamismo. Vejamos os grupos que resultaram
desta “separação”:
Xiitas. Esta facção do Islã representa não mais de 10%
ou 15% de toda a comunidade islâmica no mundo, estando presentes, sobretudo, no
Irã.
Basicamente, os xiitas se caracterizaram por determinar que somente
os descendentes diretos do profeta poderiam almejar o califado. Essa
reivindicação parecia ser a única coisa que realmente interessava aos seus
proclamadores, mas não para os que se achavam em terras iraquianas, os quais,
além das reivindicações do califado excluído, alegavam que um legítimo
partidário de Ali, começando pelo próprio Ali, era um guia espiritualmente
nomeado, agraciado por Allah com conhecimentos especiais.
Sunitas. O
crescimento acelerado da fé islâmica confrontou seus adeptos com outras questões
cruciais e mais complexas que aquelas que já eram aplicadas e praticadas entre
os fiéis. Esta dificuldade proporcionou o levantamento de questões acerca da
conduta em áreas que iam além dos limites da Arábia, nas quais as imposições
corânicas se mostraram insuficientes ou inaplicáveis.
Quando da
manifestação destes problemas, os líderes espirituais apelavam para a sunna
(conduta ou prática) de Maomé em Medina, empregada para o exercício do Hadith
(tradições), nas quais encontravam suas decisões e julgamentos de caráter
social. Os muçulmanos que passaram a adotar este método para dirimir problemas
dentro da comunidade islâmica receberam o nome de sunitas. Constituem 90% da
população islâmica no mundo.
Sufistas. É uma das correntes mais antigas.
Surgiu no século 9 e é também a mais mística do islamismo. Os sufistas enfatizam
a relação pessoal com Deus e praticam rituais que incluem danças e exercícios de
respiração para atingir um estado místico. São membros praticantes do sufismo os
faquires, da Índia e outras regiões da Ásia, e os dervixes, da Turquia.
Historicamente, o islamismo tem sido marcado pelo surgimento de movimentos,
grupos e correntes de maior ou menor envolvimento político, de linhas
fundamentalista (conservadora) ou moderna.
A Kaaba
A Kaaba
é um enorme santuário negro construído em forma de cubo, situado em Meca.
Segundo a tradição islâmica, teria sido entregue a Ismael pelo arcanjo Miguel
como sinal para selar a eterna aliança de Deus com os homens.
Os
muçulmanos pregam que o santuário fora fundado por Adão e, depois, construída
por Abraão e Ismael. No período que antecedeu o surgimento do islamismo, era
santuário de mais de trezentas divindades árabes, porém, posteriormente, Maomé
derrubou estas divindades e consagrou o local ao Deus verdadeiro. Anualmente, o
local é visitado por mais de duzentos milhões de fiéis peregrinos, em
cumprimento ao Hajj.
Causas da expansão muçulmana
Os
historiadores apresentam as seguintes causas para a expansão
árabe:
Religiosas: O entusiasmo religioso e a devoção dos chefes
muçulmanos a Maomé, a ponto de aceitarem a morte em uma “guerra santa” como um
“abre-te, sésamo” para o paraíso.
Econômicas: A Arábia, reduzida em
recursos naturais, já não estava mais podendo satisfazer as necessidades físicas
de sua população. Então, sob a ameaça da miséria e da fome, os árabes viram-se
na necessidade de fazer um esforço desesperado para libertar-se da ardente
prisão do deserto.
Militares: À medida que os vitoriosos exércitos
árabes cresciam com recrutas famintos e/ou ambiciosos, crescia também o problema
de fornecimentos de novas terras que pudessem prover a esses soldados alimentos
e soldos. Cada vitória exigia outra, até que as conquistas árabes resultaram no
mais espantoso feito da história militar.
Afinidade racial e cultural: Os
conquistadores árabes encontraram em algumas regiões populações de origem
semítica. Assim, para as províncias conquistadas, os árabes não eram
considerados bárbaros ou estrangeiros; isso porque, por intermédio do comércio,
essas populações sempre tiveram relações com os árabes.
Tolerância
muçulmana: Os árabes eram extremamente tolerantes para com as províncias
conquistadas, exigiam apenas que admitissem a supremacia política do Islã.
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