segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Idolatria disfarçada

Os católicos sempre encontraram uma maneira de se livrar da acusação de serem idólatras. Quando pressionados com textos bíblicos sobre seu modo de culto prestado a Deus, aos santos, às imagens, às relíquias, à eucaristia e à Maria, prontamente respondem que não levamos em conta a cuidadosa distinção de culto feita pela Igreja Católica para não incorrer neste pecado.

Os eruditos católicos precisam fazer esta distinção, pois, sem ela, não poderiam escudar-se quando pressionados com a acusação de idolatria. Com esta nuança de palavras, sentem-se livres para prosseguir com seus sofismas teológicos. Diante das severas advertências bíblicas, foi necessário fabricar-se uma tríplice distinção entre o que eles classificam “latria”, que seria o grau mais alto de adoração, “hiperdulia”, um grau abaixo daquele (tido como veneração a Maria) e superior à “dulia”, também veneração, mas prestada aos santos e aos objetos relacionados a tais santos, como, por exemplo, as imagens.

Os católicos dizem que prestam unicamente o culto de “latria” a Deus e o culto de “dulia” aos santos, sem incorrerem no risco de confundi-los. Contudo, esta “cuidadosa” diferença desaparece na prática. Vejamos, mais à frente, como ela tende a se confundir no desenrolar do culto que o devoto católico presta.

O papa Gregório estava errado quando disse que “as imagens são os livros dos ignorantes”. A bem da verdade, as imagens são mais eficazes para cegar os olhos espirituais destas pessoas e, conseqüentemente, deixá-las mais ignorantes ainda, do que para tirá-las desta condição.

Quando a imagem de algum “santo” cai no chão e quebra, o devoto não diz apenas que a imagem se quebrou, mas afirma ter quebrado o próprio santo, seja ele Antônio, Benedito, Jorge, José, entre outros, repetindo assim o episódio de Labão, que acusou Jacó de roubar não só suas imagens, mas seus “deuses” (Gn 31.30).

Imagine um católico fazendo a oração que segue, curta e fervorosa, diante do quadro da sagrada família — Jesus, Maria e José.

Meu Jesus, misericórdia.
Doce coração de Maria, sede a minha salvação.
Jesus, Maria, José eu vos dou meu coração e minha alma.
Jesus, Maria, José assisti-me na última agonia.
Jesus, Maria, José, expire a minha alma entre vós em paz.
Amém.


Perguntamos: Qual é o católico que consegue fazer a distinção entre “latria”, “dulia” e “hiperdulia” quando se prostra para rezar fervorosamente perante os três personagens do quadro? Como bem expressou a pesquisadora de religiões, Mary Schultze: “a mão-de-obra é grande demais!”

Como quase todas as invenções doutrinárias do catolicismo através dos séculos têm seu embrião no paganismo, esta suposta distinção entre um culto e outro não é uma exceção. Os pagãos rodeados por seus muitos deuses e intercessores fizeram uma hierarquia de culto para eles, distinguindo entre divindades maiores e divindades menores. A Roma papal, cópia fiel do paganismo, também procedeu do mesmo jeito. Isto nos traz à memória um texto bíblico em que aparece uma situação análoga: “Assim estas nações temiam ao SENHOR e serviam as suas imagens de escultura; também seus filhos, e os filhos de seus filhos, como fizeram seus pais, assim fazem eles até o dia de hoje” (2Rs 17.41; grifo do autor).

O correto uso dos vocábulos da Bíblia

Os termos gregos dulia e latria não têm nenhuma semelhança com a definição que lhes dá o catolicismo. Podemos desmontar este arcabouço doutrinário levantado pela teologia romanista simplesmente recorrendo ao original grego do Novo Testamento.

Dulia: é derivado do verbo grego douléuo, cujo equivalente é “servir”, “ser escravo”, “subserviente”. Este verbo é usado para expressar o nosso dever de servir a Deus, e aparece em passagens como:

Mateus 6.24

“Ninguém pode servir (douleuein) a dois senhores...”

Atos 20.19

“Servindo (douleuôn) ao Senhor com toda a humildade...”

Romanos 12.11 (V. tb. 14.18)

“Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo (douleuontes) ao Senhor”

Latria: o termo aparece nas escrituras gregas cristãs como adoração como culto, ritos, cerimônias, serviços exteriores. Vejamos alguns exemplos de seu uso:

João 16.2

“Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço (latreian) a Deus”.

Romanos 9.4 (V. tb.12.1)

“Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto (latreia), e as promessas”

Hebreus 9.6 (V. tb. 9.1)

“Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços (latreias)”

A palavra comumente usada na Bíblia Sagrada para adoração é proskyneo, cujo significado, entre outros, é prostrar-se e adorar, e não latreia. Vejamos:

Mateus 4.10

“Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás (proskunêseis), e só a ele servirás (latreuseis)”

Tanto o culto de latria quanto o de dulia devem ser prestados somente a Deus, e a mais ninguém. Somente diante de Deus devemos nos prostrar e somente a Ele devemos servir. Portanto, servir a alguém em sentido religioso que não seja o próprio Deus é declaradamente idolatria, e foi essa a censura do apóstolo Paulo quando escreveu aos gálatas reprovando a vida idólatra que outrora levavam.

“Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses” (Gl 4.8).

No original grego aparece a palavra dulia. Era justamente este o tipo de culto que os gálatas prestavam aos seus deuses, mas nem por isso Paulo os poupou de serem chamados de idólatras.

Aos tessalonicenses, o apóstolo diz o seguinte: “Porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro” (1Ts 1.9).

Diante disso, entendemos que o culto de dulia deve ser prestado com exclusividade a Deus, ficando claro que o apóstolo, ao usar o termo dulia, condena esta superstição com a mesma força com que a condenaria com o termo latria” (Institutas, livro I, cap. 12).

O que é hiperdulia?

A definição do dicionarista para o prefixo hiper é: “posição superior; além; excesso”. Será que com o culto de hiperdulia os católicos não estariam cultuando a Maria acima e além de Deus e, conseqüentemente, transformando-a em um ídolo? As Escrituras nunca registram uma hiperdulia para Deus, mas apenas a dulia, já os católicos querem prestar a Maria um culto ou serviço superior ao que é prestado ao próprio Deus, ou seja, uma hiperdulia!

Para que nenhum católico diga que estamos jogando com as palavras para acusá-lo falsamente, vejamos o que afirma o livreto intitulado “Com Maria rumo ao novo milênio”, da editora Paulus:

“Houve um tempo em que os católicos veneravam demais os santos. Esqueceram-se um pouco de Jesus. Ele até parecia um santo ao lado dos outros...” (p. 13; grifo do autor).

Evidências disso são os títulos “santóides” conferidos a Jesus, tais como: “São Bom Jesus dos Milagres” e “Senhor Jesus do Bonfim”, entre outros.

Se isto não for idolatria, então não sabemos mais o que poderia ser!

Todavia, os fatos falam por si só. E a questão em pauta envolve fatos, e não nomes. Alguém já disse que “contra fatos não há argumentos”. Não adianta querer esconder a situação espiritual em que os católicos se encontram com sutilezas e supostas distinções de palavras. Suas práticas constituem-se em atos de adoração explícita, ou seja, quando um católico se prostra diante de uma imagem de Maria e lhe faz pedidos, isto é idolatria.

Onde está a diferença da qualidade do culto que prestam a Deus, aos santos ou a Maria e suas imagens? Ela desaparece por completo no desenrolar da adoração do fiel.

Por tudo isso é que não podemos aceitar a sutileza usada pelos teólogos católicos para diferenciar os tipos de culto que prestam em seus “arraiais”.

Oremos para que o Espírito Santo conceda-lhes oportunidades de reconhecer, em tempo oportuno, aquele que é o único digno de adoração. De verdadeira adoração!

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